e-ISSN: 1981-7746
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Este artigo apresenta resultados parciais de pesquisa que visou a apreender como os trabalhadores vivenciam as relações interprofissionais no contexto das práticas de atenção à saúde em doenças infecciosas em setor de internação hospitalar de instituto de pesquisa. Enfoca o trabalho em equipe a partir da rotina dos profissionais que lá atuam e das reuniões multiprofissionais em saúde. O referencial teórico-metodológico articulou contribuições da ergologia de Schwartz com reflexões da Política Nacional de Humanização. A pesquisa qualitativa utilizou técnicas de observação participante e entrevistas semiestruturadas para a produção de dados. A análise do material empírico foi realizada com base no referencial da análise de conteúdo em sua vertente temática. Dentre os principais resultados, observou-se que os trabalhadores desejam encontrar uma forma efetiva de trabalhar em equipe que resulte numa atenção à saúde integral e humanizada, porém prevalece uma postura de espera pelo sujeito das mudanças. Isto demonstra a necessidade de se fomentar o protagonismo desses sujeitos, tornando visível a gestão que os trabalhadores da saúde fazem do seu próprio processo de trabalho, bem como aprimorar mecanismos de gestão participativa com a ampliação do grau de transversalização entre os sujeitos envolvidos no cuidado, numa perspectiva de gestão em que todos sejam corresponsáveis pelos rumos da atenção prestada.
A partir da análise de situações de trabalho, observa-se que a gestão do trabalho não é responsabilidade do indivíduo, mas das entidades coletivas relativamente pertinentes. São elas que possibilitam as renormatizações, construindo negociações de modo que as renormatizações não ocorram em um movimento individualista, mas na sinergia da construção de um patrimônio histórico. São retomadas reflexões realizadas em dois serviços de um hospital público no Brasil e, com uma perspectiva ergológica, discute-se que essas entidades coletivas não são previamente estabelecidas, pois emergem do debate de normas e de valores que acontecem no desenvolver das atividades. No serviço de marcação de exames e no serviço de enfermaria, as normas correspondem simultaneamente a normas relativas aos procedimentos e à organização do trabalho, mas também dizem respeito ao tratamento singular de situações específicas dos pacientes que colocam em debate valores sem escala de medida (do bem comum) e valores mensuráveis (mercantis). O processo que se dá tem consequência tanto para o trabalho de gerentes e trabalhadores dos serviços quanto para o do interventor-ergologista, para os quais compreender melhor em conjunto a interrelação entre esses valores e como melhor trabalhar com eles no processo de gestão torna-se uma tarefa primordial.
Destacam-se no artigo os riscos potenciais à segurança e à saúde (especialmente a dimensão mental), associados às características do processo de trabalho e ao modelo de gestão do trabalho adotado pela empresa multinacional Schlumberger. Esses dois elementos aliados aos traços predominantes da indústria petrolífera tendem a expor seus trabalhadores a um aumento do custo psíquico (cognitivo, afetivo) em sua integridade biopsíquica (corpo-si). Indicam-se pistas para reflexão relativas à constatação das inadequações da organização do trabalho e do despreparo de muitos trabalhadores para lidarem com a intensidade das 'dramáticas do uso de si'. Questionam-se o alcance do 'sofrimento patogênico' presente na organização do trabalho, o comprometimento da possibilidade de sublimação e a possível conversão do sofrimento em criatividade (condição de 'possibilidade de circulações'). O referencial teórico-metodológico privilegia a ergonomia da atividade e a psicodinâmica do trabalho numa perspectiva ergológica. Os métodos operacionalizam um dispositivo dinâmico a três polos (DD3P) em 'encontros sobre o trabalho' e entrevistas semiestruturadas que valorizam a dialogia.
Toda situação de trabalho se presta a uma dupla abordagem. É o local onde se realiza uma tarefa, pensada anteriormente e provocadora de uma intensa atividade intelectual pelo trabalhador. Mas é igualmente um momento único da vida, com suas arbitragens. Nesse caso, a tarefa não é mais vista como primeira, ela entra no 'debate de normas' que caracteriza a atividade do trabalhador sob o ângulo vital, aquele das escolhas que um ser humano não cessa de fazer. Entendemos que essas duas perspectivas correspondem, respectivamente, à de Pierre Pastré e à de Yves Schwartz. Elas se completam e enriquecem a análise: seu entrecruzamento confere, notadamente, um destaque inédito à questão das competências.
Este artigo tem como objetivo analisar a influência das condições de trabalho nas atividades das enfermeiras na Saúde da Família e nas renormalizações que produzem. Trata-se de um estudo qualitativo realizado em um município do sul do Brasil, envolvendo uma amostra intencional de dez enfermeiras. Utilizou-se triangulação metodológica com dados colhidos através de estudo documental, observação e entrevistas de autoconfrontação. Para tratamento e análise dos dados, usaram-se recursos do software Atlasti 5 e os fundamentos do materialismo histórico dialético e da ergologia. Os resultados mostraram que condições de trabalho inadequadas, como força de trabalho insuficiente e precariedade dos instrumentos de trabalho, contrariam ou impedem o alcance dos objetivos de promoção da saúde e integralidade prescritos pela Saúde da Família. Conclui-se que, nessas condições, as enfermeiras renormalizam suas atividades com base nos valores de direito à saúde, acesso e integralidade, acarretando sobrecarga de trabalho.
Evidenciar a 'dimensão gestionária' na atividade de teleatendimento é o principal objetivo deste artigo. A perspectiva ergológica entende o trabalho como encontro singular com uma tarefa a ser realizada, que com suas variabilidades sempre possui uma gestão a ser feita pelos trabalhadores(as). Essa gestão está intimamente relacionada à capacidade de definir e produzir a saúde e a doença. Para apreender a complexidade e a singularidade do trabalho em teleatendimento, para além do visível e quantificável das prescrições, buscou-se a utilização da técnica de Instruções ao Sósia e dos Encontros sobre o Trabalho, na perspectiva de propiciar uma reflexão e um discurso sobre o trabalho pelos(as) trabalhadores(as). As renormatizações foram observadas em outro uso das prescrições: pausas, script e voz, através dos quais os(as) operadores(as) imprimem sua marca. O valor do emprego se contrapõe às repercussões negativas para a saúde, o adoecimento e o sofrimento, com controle rigoroso do espaço, do tempo e do comportamento. Conclui-se que a consideração da 'dimensão gestionária', vista na sua singularidade, deve ser reconhecida pelos(as) próprios(as) trabalhadores(as), profissionais da saúde e pesquisadores, como elemento fundamental para a prevenção dos adoecimentos e para a promoção da saúde.
Procura-se analisar o trabalho dos profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a Política Nacional de Humanização do Sistema Único de Saúde (PNH/SUS) do ponto de vista da atividade humana. Pergunta-se sobre as possibilidades de 'humanização do processo de trabalho' no Samu e sobre o 'agir competente' da urgência móvel em saúde, a partir de referenciais ergológicos. Para construção do artigo partiu-se de discussões marxistas sobre o processo de trabalho como produção de valores de uso; em seguida, abriu-se diálogo sobre processo de trabalho em saúde com base em autores do campo da saúde coletiva e da PNH. A perspectiva ergológica do trabalho é aprofundada no item seguinte, de modo a contribuir para uma análise da atividade dos trabalhadores do Samu/Belo Horizonte durante o atendimento a uma ocorrência de acidente.
O presente artigo tem como objetivos discutir o trabalho em saúde e apresentar um dispositivo para a formação de trabalhadores sob a ótica do conceito ampliado de saúde, fundamentado em três principais referenciais teóricos: a démarche ergológica e seu dispositivo dinâmico a três polos de Yves Schwartz, a cartografia da micropolítica do trabalho vivo em ato de Emerson Elias Merhy e a educação popular em saúde, inspirada em Paulo Freire. Espera-se com este estudo contribuir para a reflexão e a construção de uma estratégia de formação para intensificar a inserção dos estudantes nos cenários de prática que enfatizem a construção compartilhada de conhecimentos e favoreçam especialmente a produção e efetivação de saberes e dos aspectos relacionais que compõem o núcleo tecnológico do cuidado em saúde.
Como conhecer o trabalho quando o trabalho não é mais o trabalho? Esta pergunta comporta dois aspectos: o primeiro é de ordem metodológica (como conhecer o trabalho?). O segundo diz respeito a este objeto hipotético que seria 'o trabalho que não é mais o trabalho'. Se este último designa o trabalho não mercantil e o trabalho informal por distinção (ou oposição) ao trabalho mercantil, então o 'trabalho que não é mais o trabalho' continua sendo, na realidade, um trabalho. Todavia, ele é diferente do trabalho mercantil, que, de acordo com uma postura etnocêntrica, supostamente constitui uma referência para a avaliação da natureza das atividades humanas. Mas, qualquer que seja o modo de trabalho dominante num coletivo de vida, uma análise da norma na atividade dita informal, do duplo ponto de vista do conceito e da experiência, permite sugerir que uma atividade humana socializada não pode ser verdadeiramente informal. Algumas balizas metodológicas permitem tentar compreender as atividades supostamente informais, chamando a atenção para os princípios epistemológicos da ergonomia e da ergologia.
A experiência docente e profissional em terapia ocupacional indica uma formação acadêmica limitada em relação aos seguintes aspectos: o ser terapeuta ocupacional e suas implicações técnicas e metodológicas; o compreender e o assimilar o perfil profissional e, ainda, o entender o papel da atividade humana como recurso terapêutico. Para contribuir com tais lacunas, desenvolveu-se o Método da Escavação, criado com base na prática clínica e acadêmica. Neste artigo, o método é apresentado e analisado considerando as relações teórico-metodológicas entre a prática clínica, a formação acadêmica em terapia ocupacional e a abordagem ergológica. A argumentação desenvolvida resultou de um estudo de caso realizado em pesquisa de doutorado. Os dados foram coletados em documentos, entrevistas semiestruturadas e observação do Grupo de Estudos sobre Atividade Humana (Geah) do Instituto Metodista de Porto Alegre (IPA). Concluiu-se que há convergências entre o Método da Escavação e o Dispositivo Dinâmico a Três Polos. A vivência do método permitiu a confrontação e o entrecruzamento de saberes e valores entre o polo da experiência e o polo conceitual que compõem a terapia ocupacional. Os discentes renormatizaram saberes e ressignificaram suas vidas cotidianas e experiências de trabalho, reafirmando o poder terapêutico e criador da atividade humana.
Com base nos resultados da pesquisa "As mudanças no mundo do trabalho nas empresas de comunicação" da autora, discutem-se, neste artigo, aspectos relativos aos valores e às escolhas inerentes à atividade de trabalho dos comunicadores. Na primeira parte, trata-se da centralidade do trabalho e da comunicação na sociedade contemporânea. Toma-se como referencial teórico o conceito de atividade humana de trabalho, a partir do qual se estabelece a aproximação entre a ontologia do ser social de Marx e a abordagem ergológica. Na segunda parte, discute-se a contradição que se apresenta na prática profissional do comunicador em relação ao direito à informação. Essa contradição, entre prática profissional e direito à informação, foi apontada como um dos resultados da investigação. A pesquisa analisou os dados obtidos por meio de entrevistas com uma amostra de comunicadores, funcionários em duas empresas do ramo da comunicação. A discussão permite evidenciar os valores profissionais e as injunções do sistema de produção nos debates e conflitos que o jornalista enfrenta consigo mesmo ao fazer suas escolhas para realizar o trabalho. Esses embates são enfrentados pelo profissional no contexto do sistema de grandes conglomerados de empresas de comunicação e fusão de mídias. Ao final, faz-se um balanço geral dos resultados.
O artigo trata das competências requeridas/ desenvolvidas nas atividades de auxiliares de enfermagem de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin) em articulação com a saúde dessas trabalhadoras (o sofrimento→prazer no trabalho). A perspectiva da ergologia orienta o esforço investigativo, incorporando outros referenciais, como os contidos nos estudos de Zarifian e Dejours. No plano metodológico, ainda tendo o ponto de vista da atividade como operador sintético, foram feitos levantamento e análise de documentos e visitas à Utin, operando-se com o dispositivo Encontros sobre o Trabalho, da Comunidade Ampliada de Pesquisa (CAP). Concluiu-se que o coletivo de auxiliares, protagonista do trabalho em análise, construiu um patrimônio de conhecimentos práticos sobre o seu trabalho e uma base minimamente eficaz de transmissão desse patrimônio. Fazendo uso da abordagem 'Psicodinâmica do Trabalho', ressaltou-se o caráter desafiante que o trabalho em UTI Neonatal apresenta, o que envolve saber lidar não só com o sofrimento dos neonatos como também o de mães e familiares, inclusive como forma de defesa contra seu próprio sofrimento, evitando um rumo patogênico. Observou-se, por fim, que é premente a demanda de qualificação formal por parte dessas trabalhadoras, o que propiciaria, dentre outros importantes benefícios, um maior reconhecimento social, com efeitos positivos sobre sua própria saúde.
Trata-se de um estudo sobre a análise da atividade de uma professora de Educação Física em sua primeira experiência como docente em uma escola pública polivalente da rede estadual do Espírito Santo. Busca compreender como são engendradas as estratégias no cotidiano escolar que permitiram à professora produzir saúde e escapar ao adoecimento. A metodologia adotada se construiu com as ferramentas conceituais-metodológicas formuladas pela ergologia, combinando técnicas de produção de dados, como diários, entrevistas e autoconfrontação das mesmas. A análise da atividade docente constata a incessante luta da professora em meio aos usos de si por si e aos usos de si pelos outros.
Neste artigo discutimos, na perspectiva da ergologia, o conceito de trabalho. Situamos as definições dele ao longo da história por diferentes correntes de pensamento e polemizamos sobre o caráter inédito, invisível e visível do trabalho. O que ele pressupõe e o que ele permite inferir em termos de investimento humano pessoal e coletivo. O que ele revela em termos de continuidades de modos de fazer e o que ele omite em termos de saberes investidos. Procuramos retrabalhar a noção de trabalho, tentando explicar os impasses evocados. Ao final, sugerimos como esta reapreciação da noção de trabalho poderia reinterrogar também o trabalho do historiador.
O depoimento revela aspectos das relações de trabalho, focalizando principalmente nos direitos do trabalho de proteção aos riscos e à saúde. Além disso, apresenta elementos históricos da colaboração entre professores-pesquisadores da Universidade de Oran, na Argélia, e professores-pesquisadores do Departamento de Ergologia da Universidade de Provence, na França, para a implementação de projetos e formação de médicos do trabalho.