e-ISSN: 1981-7746
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O objetivo deste artigo é resgatar aspectos relativos à constituição da educação em saúde como campo científico. Mostra as principais transformações ocorridas desde as concepções autoritárias e etnocêntricas em relação a seus gruposalvo até as atuais propostas de educação popular de valorização do saber popular, inspiradas no pensamento de Paulo Freire. Defende que a postura do antropólogo em campo, ao buscar valorizar o saber do Outro como tão legítimo quanto o acadêmico, pode auxiliar os profissionais de saúde na prática de uma educação em saúde dialógica, para os grupos aos quais se destina.
Este estudo buscou compreender quais os limites e possibilidades para a intersetorialidade foram gerados no processo de conformação do sistema de proteção social brasileiro. Ele se justifica pela potencialidade atribuída à intersetorialidade de superar a fragmentação dos conhecimentos e estruturas da sociedade, criando espaços de compartilhamento e diálogo necessários à solução dos problemas complexos, bem como pela possibilidade de entender os desafios que se colocam diante do dilema de operar questões intersetoriais em ambientes tradicionalmente setoriais. O texto dividese em três partes: primeiro, trabalhase a noção de 'intersetorialidade'; em seguida, delineiase a construção e as características do sistema de proteção social brasileiro; finalmente, discutese como a conformação institucional resultante de sua configuração interfere na forma de articular políticas sociais. Concluiuse que o processo de desenvolvimento e a trajetória de construção do sistema de proteção social brasileiro foram marcados por elementos que produziram um ambiente pouco favorável à intersetorialidade. Um primeiro esboço de articulação intersetorial ocorreu no escopo da discussão sobre o 'desenvolvimento social', que aconteceu tardiamente no Brasil, e parece ter tentado reverter o estigma de baixa eficácia e efetividade das políticas sociais. Entretanto, pouco se avançou nessa direção, e a forma corrente de designar a intervenção social do Estado continua sendo no plural (políticas sociais) e setorialmente referida.
O artigo examina as fragilidades que permeiam as inter-relações estabelecidas no processo de trabalho de médicos de família italianos para conhecer possíveis conflitos éticos. Trata-se de um estudo de campo, de abordagem qualitativa e caráter explora-tório-descritivo, realizado em 2007, na província de Roma, região do Lácio, Itália, com médicos de família italianos conveniados ao Serviço Sanitário Nacional. Analisados à luz da bioética cotidiana, os resultados mostram conflitos éticos gerados diretamente pelo modelo de organização de atenção em saúde do Serviço Sanitário Nacional e pelo mercado da indústria farmacêutica e indiretamente pela sociedade, tendo como pano de fundo o capitalismo em sua face neoliberal.
Este estudo qualitativo objetivou compreender os significados que os trabalhadores da enfermagem atribuem ao próprio processo de envelhecimento no mercado de trabalho, identificando implicações na saúde individual e familiar. Foi utilizado o método da história oral temática, com vinte trabalhadores da enfermagem de hospital público na cidade de Marília, São Paulo. Na análise, emergiram três categorias: história do trabalho na vida, história sobre saúde e adoecimento no e/ou pelo trabalho e história do envelhecimento no e/ou pelo trabalho. Depreendemos que o trabalho ocupa lugar de destaque; além de garantir a subsistência, propicia a participação na sociedade. Encontramos relatos de insatisfação com o trabalho, relacionada principalmente à maneira como ele está organizado. Concluímos que o trabalho continua sendo uma atividade importante durante toda a vida, e o ambiente e a forma como o trabalho está organizado influenciam no processo de envelhecimento. O grande desafio para a enfermagem é formular proposições que impliquem real melhoria da condição dos seus trabalhadores.
Este artigo analisa a singularidade da ação dos agentes comunitários de saúde em sua circulação pelo território, no município de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Considerou-se que os encontros entre agentes e território extrapolam as prescrições e expectativas das políticas de saúde. Problematizou-se a produção de uma imagem idealizada dos agentes, no qual são vistos como a 'mola propulsora' das transformações esperadas da Atenção Básica. Ao se analisar a complexidade das demandas presentes em seu cotidiano de trabalho, destacou-se a multiplicidade de estratégias de cuidado produzidas pelos agentes comunitários. A singularidade de cada território, das equipes de saúde e da gestão, entre outras numerosas variabilidades, pressiona os agentes e os demais trabalhadores das equipes da Estratégia Saúde da Família a encarar uma realidade bastante distinta do que se supõe. Destacou-se, portanto, a importância de se produzir uma posição crítica e reflexiva, colocando em questão os limites e possibilidades dessa prática, a fim de potencializar as estratégias de cuidado ali existentes.
A promoção da saúde é uma proposta de política mundial, contemporânea na saúde pública, que traz a saúde em seu conceito amplo. A Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem fundamentase na singularidade do gênero masculino. Este trabalho objetivou analisar o discurso dos homens sobre doença, prevenção, saúde e a necessidade de sua promoção. Pesquisa descritivoexploratória com abordagem qualitativa, realizada com 57 homens, moradores adstritos a uma unidade da Estratégia Saúde da Família do município de Marília, estado de São Paulo, integrada ao Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde. Utilizouse a técnica de discurso do sujeito coletivo, baseada nas perguntas 'o que você faz para manter sua saúde?' e 'o que você considera prejudicial para sua saúde?' Nos resultados, os discursos analisados evidenciaram que a maioria dos homens não compreende em sua totalidade o sentido de saúde, doença e prevenção, além de se fundamentarem no dimensionamento biológico. A Política Nacional de Atenção à Saúde do Homem constitui importante estratégia de promoção da saúde, todavia ainda requer que profissionais e instituições de diversas áreas, além da saúde, sejam ágeis, criativos e capacitados para lidarem com tal singularidade e suas vulnerabilidades.
O objetivo do estudo foi caracteriza os grupos de educação em saúde realizados para hipertensos e diabéticos de Campo Mourão, no Paraná. Trata-se de um estudo quantitativo realizado com 121 profissionais vinculados à Estratégia Saúde da Família. Utilizou-se um formulário com variáveis de caracterização e de avaliação, como a realização de grupos com a comunidade, os assuntos discutidos, os profissionais participantes, sugestões e dificuldades. Os resultados revelaram que 70% das unidades oferecem grupos de educação em saúde, contudo estão focados em temas curativistas. Os profissionais que se mostraram mais envolvidos foram os agentes comunitários de saúde e os enfermeiros. Apesar de os grupos apresentarem uma configuração que necessita de mudanças para melhor promover a educação em saúde, foram poucos os profissionais que reconheceram a importância de se promoverem alterações nos grupos. É fundamental que os profissionais da equipe de saúde da família sejam capacitados para perceberem que o processo de educação em saúde não se limita à transferência de informações, mas inclui a construção compartilhada de saberes entre o usuário e o profissional de saúde.
O artigo desenvolve a ideia de que o currículo integrado e a educação de jovens e adultos, associados no Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, funcionam como analisadores, evidenciando o modo como a educação se constitui e torna possível o surgimento de outras formas de organização do fazer pedagógico. A proposta de integração curricular contida nesse programa possibilita colocar em discussão o modo como a educação tem organizado suas relações, suas práticas, seus tempos e seus espaços. Permite, ainda, ultrapassar os discursos que reafirmam a necessidade de adaptação dos projetos pedagógicos da educação 'regular' às especificidades do aluno da educação de jovens e adultos, questionando outras modalidades da educação. Além de problematizar o potencial transformador do currículo integrado, o texto analisa as reações e os movimentos suscitados nos embates entre o instituído e o instituinte, os quais podem tanto intensificar quanto reduzir a propriedade crítica da proposta, procurando torná-la equivalente às formas sociais já existentes. Conclui destacando que a educação, ao mesmo tempo em que deve ao modo como a sociedade se estrutura as suas condições de possibilidade, contribui para a produção de subjetividades que circulam nessa mesma sociedade .
Buscou-se conhecer a percepção da experiência do trabalho docente em cursos de saúde de uma universidade federal da região Norte do Brasil. Utilizando-se abordagem qualitativa, foram entrevistados seis docentes de cursos de saúde dessa universidade, cujos dados foram submetidos à análise de conteúdo. Predominaram mulheres na função docente, e a valorização dessa função como vínculo estável de trabalho, fonte de rendimentos e função social. No trabalho docente, a maioria se concentra no desenvolvimento de habilidades técnico-científicas dos alunos, expressando a necessidade da qualificação contínua e apoio institucional insuficiente. As relações pessoais desses docentes com alunos e outros professores e técnico-administrativos são reconhecidamente mediadoras da qualidade do processo de ensino-apren-dizagem e trabalho. Quanto à saúde, a maior parte se sente vulnerável e desgastada, principalmente em aspectos psicoemocionais, o que influencia as suas relações sociais dentro e fora do ambiente de trabalho. Embora o exercício profissional tenha sido identificado como fonte de estabilidade, realização pessoal e financeira, destacam-se a precariedade e a sobrecarga de trabalho, que tendem a induzir sofrimento e adoe-cimento. Esta reflexão entre docentes, movimentos sindicais e instituições de ensino pode subsidiar ajustes institucionais, legais, curriculares e sociais para melhorar o processo de ensino-aprendizagem e a qualidade de vida dos docentes.
Um novo tipo de relacionamento entre ciência, tecnologia e indústria na contemporaneidade estimula a forte expansão da realização do consumo de bens e serviços especializados, construindo diversificados problemas éticos nesse processo. Este artigo objetiva analisar a relação entre ética, especialização e mercado de trabalho na odontologia pós-reestru-turação produtiva. Trata-se de pesquisa qualitativa exploratório-descritiva, com aplicação de um questionário em trinta alunos de um curso de especialização do sul do Brasil. As categorias foram construídas por meio dos problemas éticos apontados nos discursos dos profissionais e analisadas pelo método textual discursivo. As categorias estudadas foram a busca da especialização como imperativo para o diferencial de mercado e os problemas éticos na construção de novas necessidades de consumo estético e especializado com base em esquemas de convencimento singulares pro-fissional-paciente. Um quadro de crise paradigmática da profissão odontológica estimula a ampliação das especialidades pautadas no consumo estético, o que amplifica a importância do debate da ética na formaçãolato sensue, também, na formação permanente no trabalho em saúde bucal. Indica-se a necessidade de participação proativa dos conselhos profissionais, entidades de classe e instituições governamentais relacionadas à saúde bucal na construção do debate ético--bioético voltado ao trabalho e formação profissionais.
A pesquisa teve por objetivo conhecer as percepções e demandas dos nutricionistas atuantes na alimentação escolar sobre sua formação nessa área da nutrição. A investigação foi realizada por meio de aplicação de questionário autopreenchível a 39 participantes de uma capacitação para nutricionistas que atuam no Programa Nacional de Alimentação Escolar em 2008. Os dados foram analisados mediante a utilização de abordagem qualitativa. A maioria considerou que a graduação não preparou adequadamente para a atuação na área, já que temas pertinentes ao Programa Nacional de Alimentação Escolar não são, ou são pouco abordados. Apesar das dificuldades e queixas, a maioria manifestou satisfação com sua prática na alimentação escolar, porém pressupõe ser necessária alguma mudança, tendo demonstrado desconforto com a própria prática. Este estudo reforça a importância de ampla discussão sobre a formação do nutricionista e a adequação dos currículos às demandas atuais.
Este artigo apresenta experiências de nutricionistas em atividades de educação alimentar e nu-tricional desenvolvidas, nos últimos dez anos, nas escolas de Duque de Caxias, município do estado do Rio de Janeiro. A metodologia de sistematização de experiência tem como pressuposto que esta atividade coletiva de aprendizagem se dá a partir da interpretação crítica das práticas em diálogo com a teoria. Foram realizadas consultas em acervos pessoais e de projetos e, posteriormente, entrevistas individuais e coletivas com nutricionistas. Pôde-se registrar grande diversidade nas ações desenvolvidas, interesse na atuação intersetorial e progressiva incorporação do discurso do direito à alimentação. As parcerias estabelecidas entre nutricionistas e movimentos populares marcam a descrição das experiências. A educação alimentar e nutricional foi afirmada como campo de atuação interdisciplinar. Em contextos de grande injustiça torna-se essencial incorporar princípios da educação popular, tais como amorosidade, diálogo e compromisso com os oprimidos. A sistematização sinaliza que nutricionistas, responsáveis, professores, merendeiras e outros profissionais da escola têm sido importantes atores nas experiências, além de indicar o potencial de ampliação da participação de estudantes.
Este estudo objetivou avaliar a qualidade de vida dos estudantes de Nutrição, de modo a subsidiar reflexões no processo de formação em saúde. Tratou-se de estudo observacional de corte transversal, realizado com quarenta estudantes distribuídos em todos os semestres do curso no período de agosto de 2010 a agosto de 2011. A coleta de dados foi realizada por meio de questionário específico — aspectos sociodemográfi-cos — e do instrumento World Health Organization Quality of Life Instrument Bref. Foram realizadas análises estatísticas descritivas de frequência, tendência central e dispersão e análise inferencial de comparação entre os domínios. Estes apresentaram os seguintes escores: meio ambiente (68,17), relações sociais (66,67), físico (66,07) e psicológico (63,82). As facetas sono, energia para o dia a dia, capacidade de concentração, oportunidades de atividades de lazer, recursos financeiros, ambiente físico e sentimentos negativos influenciaram negativamente a qualidade de vida dos entrevistados e interferiram no desempenho acadêmico. Esses achados corroboram outros estudos sobre graduandos, revelando que a qualidade de vida desses jovens demanda aprimoramento das estruturas físicas e ambientais, do apoio pedagógico, social e psicológico num contexto de inclusão social e multidiversidade cultural cada vez mais presente nas universidades públicas brasileiras.
Este ensaio busca contribuir para a construção de uma modalidade participativa e dialógica de vigilância em saúde para os locais de trabalho, notadamente para o serviço público federal. Nele desenvolve-se uma reflexão com base na revisão da literatura especializada e foco na legislação e na política em vigor no país. Constata-se que as conquistas históricas realizadas no âmbito dos movimentos sociais de trabalhadores propiciam a produção de novas relações entre o Estado e a sociedade, favorecendo o aparecimento de espaços participativos nas instituições públicas. Além disso, evidencia-se a necessidade capital da organização de comissões de saúde do trabalhador por locais de trabalho como forma elementar de implantação da política de vigilância em saúde nos ambientes laborais. Por fim, sob a égide do campo da educação crítica, apresentam-se alguns preceitos do aporte teórico da pedagogia freiriana para que sirvam de base à criação de espaços de fala e escuta no trabalho. Defende-se a ideia de que o diálogo e a participação são os fundamentos educativos de uma perspectiva democrática de vigilância em saúde do trabalhador.
Jaime Breilh is a professor at Universidad Andina Simón Bolivar (Ecuador). However, for collective health, this Ecuadorian researcher's name is directly linked to the critical thought on epidemiology that is not limited to affirming health as social production, rather investigates and warns about the extent to which the way the capitalistic society consolidates inequalities that are deeply connected to an ‘economics of death.’ In this interview,1 , 2 granted in March, when he was in Brazil to take part in the 5th Seminar of the National Front against the Privatization of Health, Breilh made a critical analysis of the paths epidemiology has followed and proposes to reposition it as an area of knowledge committed to an “economics of life.” To this end, he discusses the relationships that are established between theoretical options and political and ethical action directed towards facing social inequalities.