e-ISSN: 1981-7746
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Este artigo resultou de uma pesquisa que teve como objetivo analisar a institucionalização do trabalho das agentes comunitárias de saúde no município do Rio de Janeiro, mediante a avaliação de como uma perspectiva de gênero presente na política de qualificação dessas trabalhadoras vem afetando a constituição de sua profissão. Participaram do estudo 167 agentes entre os anos 2011 e 2013. Apresenta-se, primeiramente, a perspectiva de gênero presente nas políticas do Estado direcionadas às agentes. Em seguida, recupera-se a experiência de trabalho dessas trabalhadoras na implantação do Programa Saúde da Família no município e a sua relação com habilidades vistas como inatas à condição feminina, para depois se analisar como a reforma da atenção primária realizada pela Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil em 2009 vem afetando o processo de trabalho das agentes. Constatou-se que, com as novas formas de gestão adotadas, as agentes vêm se distanciando das comunidades atendidas, perdendo, desta maneira, o diferencial que dava significado e reconhecimento ao seu trabalho.
O artigo contempla reflexões teórico-epistemológicas sobre a relação entre teoria e prática na formação profissional em saúde, com base na experiência de preceptoria na formação técnica de agentes comunitários de saúde. Diversos arranjos curriculares têm colocado em pauta as dificuldades de associação entre os binômios teoria/prática e escola/mundo do trabalho. Alguns desses arranjos propostos para a formação do agente comunitário de saúde, tais como a forma como vem se configurando a modalidade concentração/dispersão, têm preservado ou mesmo fortalecido a lógica da formação para a reprodução mecânica dos procedimentos apreendidos ao longo da experiência profissional. Outros arranjos, dentre os quais a preceptoria e as práticas profissionais, sugerem a possibilidade da construção de relações mais orgânicas entre a sala de aula e o mundo do trabalho. Assim, apresentam-se as relações entre politecnia, preceptoria e práticas profissionais como proposição diante dos desafios de construção da práxis histórica desses trabalhadores.
Na perspectiva da pesquisa qualitativa e das teorias de gênero, este estudo tem como objetivo identificar e analisar as concepções de profissionais de saúde que atuam em uma equipe multidisciplinar em oncologia acerca da assistência oferecida ao público masculino com câncer. Foram entrevistados dez profissionais de saúde que compõem uma equipe multidisciplinar de um hospital oncológico de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Os resultados indicam que, para os entrevistados, os homens configuram-se como um público resistente e de difícil atuação, exigindo um manejo distinto daquele oferecido às mulheres. A dimensão biológica e o processo de socialização foram apontados como elementos que contribuem para esse distanciamento. Constatou-se ainda que os discursos dos profissionais de saúde também se encontram atravessados por estereótipos de gênero. Observam-se maior ênfase às necessidades das mulheres e o não reconhecimento dos homens como sujeitos das políticas de saúde e ações assistenciais. Faz-se necessária a inclusão do tema das masculinidades na pauta de discussões dos serviços de saúde em oncologia, favorecendo a construção participativa de estratégias que possibilitem o reconhecimento das necessidades masculinas e a garantia de práticas de saúde orientadas pelo princípio da integralidade.
A descentralização das vigilâncias sanitária, epidemiológica e ambiental para os municípios tomou impulso com mudanças organizacionais e no financiamento federal, quando cresceu a ideia de integração entre elas, e delas com a atenção individual e coletiva. Nos organogramas de muitas secretarias de Saúde, reuniram-se as vigilâncias sob uma coordenação comum, e os gestores demandaram a formação de novos profissionais para esse arranjo. Este artigo objetiva delinear os perfis dos profissionais de nível médio das vigilâncias de seis municípios do estado de Alagoas e dos serviços em que eles operam, agregando percepções dos gestores sobre a prática desses trabalhadores, que representam 88% da força de trabalho das vigilâncias nesses municípios. Sem formação específica para realizar suas atividades, o desempenho dos trabalhadores foi avaliado como pior quanto menor o tempo de exercício do gestor no cargo. As dificuldades destacadas foram: ingerência política no trabalho da vigilância sanitária e ambiental; preenchimento deficiente das fichas de investigação epidemiológica pelas equipes de saúde da família nos seis municípios; papel indefinido desse profissional na vigilância em saúde do trabalhador. A necessária formação técnica é insuficiente para superação dessas dificuldades, requerendo-se a revisão de processos de gestão e coordenação do trabalho das equipes para práticas mais efetivas.
Este artigo teve como objetivo elaborar um instrumento qualificador visando contribuir para o monitoramento e a avaliação do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família. Foi um estudo avaliativo exploratório desenvolvido em duas fases: a primeira, constituída pela construção e validação de face do modelo lógico e da matriz de indicadores, por meio de análise documental e da técnica de consenso grupo nominal. Essa primeira fase, por sua vez, aconteceu em dois momentos, pré e pós-reunião de consenso, nos quais se procurou validar um modelo lógico e uma matriz de indicadores que refletissem os principais elementos avaliativos do programa. A segunda fase compreendeu a construção do instrumento avaliativo. A partir do grupo de consenso, foram validados um modelo lógico e a matriz de indicadores, o que resultou em 32 indicadores, utilizados para a construção do instrumento avaliativo que se formatou por meio de questionário estruturado. Este questionário foi composto por 35 perguntas avaliativas distribuídas em 19 questões na dimensão gestão do programa; cinco na dimensão estrutura organizacional e 11 na dimensão processo pedagógico. O instrumento elaborado, baseado em protocolo aceito universalmente para esse fim, precisará ser aplicado em pesquisas futuras para completar seu processo de validação.
O estudo objetivou identificar as dificuldades vivenciadas pelos docentes na implementação de metodologias ativas no curso de graduação em enfermagem de uma instituição federal localizada no Rio Grande do Norte. Tratou-se de pesquisa exploratório-descritiva com enfoque qualitativo. As entrevistas semiestruturadas foram aplicadas a vinte sujeitos nos meses de agosto e setembro de 2011 e, posteriormente, analisadas seguindo pressupostos da análise de conteúdo. As principais adversidades elencadas pelos sujeitos da pesquisa foram agrupadas em três categorias de análise: problemas curriculares como empecilho para a aplicação de metodologias ativas de ensino/aprendizagem; resistência do docente em implementar metodologias ativas de ensino/aprendizagem; e dificuldade de compreensão da aplicabilidade das metodologias ativas de ensino/aprendizagem na prática docente. Diante de tais dificuldades, fez-se necessário introduzir novas formas de organizar e produzir o conhecimento, uma vez que a utilização de metodologias ativas poderia favorecer a formação de sujeitos com visão ampliada de saúde, ativos e comprometidos com a transformação da realidade. Compreender a utilização de metodologias ativas é fundamental para atender aos pressupostos do paradigma educacional contemporâneo.
O artigo aborda o processo de formação vivenciado por enfermeiras educadoras no contexto hospitalar, na perspectiva da educação permanente em saúde, com destaques para as experiências que constituíram esse processo, os sentidos dessa formação e as mudanças decorridas no desenvolvimento do cuidado de enfermagem com base nas aprendizagens significativas. Tratou-se de estudo qualitativo exploratório-descritivo, desenvolvido por meio de grupos focais com sete enfermeiras que atuavam no Programa de Educação Permanente em Enfermagem num hospital universitário, em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, em 2010, à luz dos pressupostos da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. A análise de conteúdo, do tipo temático, foi realizada utilizando-se o software NVivo 8.0 para organização e categorização dos dados obtidos. Os resultados mostraram que a participação das enfermeiras no programa resultou em abertura para diversas mudanças no seu processo de trabalho e na modelagem de ensino-aprendizagem instituída, ampliando conceitos e espaços de formação com ênfase no aprendizado coletivo no trabalho e sobre ele, o que causa impacto no cuidado de enfermagem.
A educação permanente em saúde propõe a criação de espaços coletivos com a finalidade de levar os trabalhadores da saúde à reflexão e avaliação de seus atos produzidos no cotidiano, a fim de buscar a transformação das práticas de saúde e de educação. Este artigo propôs a discussão da educação permanente com base nas ponderações feitas pelos trabalhadores da Estratégia Saúde da Família quanto aos processos de sua atividade profissional. Para isso, desenvolveu-se um estudo qualitativo, com a utilização da técnica de grupo focal. Como resultado, verificou-se que a reflexão dos profissionais de saúde sobre a realidade do próprio cotidiano de trabalho permitiu uma discussão acerca da educação permanente e, em consequência, o início de um processo de mudança de suas práticas.
Os núcleos de apoio à saúde da família configuram-se hoje como um lócus de inserção do profissional de educação física na atenção primária à saúde. Esse fato trouxe novos desafios à atuação desse profissional, como a realização de ações de promoção da saúde nos âmbitos individual e coletivo. O objetivo deste artigo foi analisar as ações realizadas por tal profissional nesses núcleos no estado de Minas Gerais, em 2015. Tratou-se de pesquisa qualitativa e exploratória, que utilizou a pesquisa documental e grupos focais com 15 participantes como instrumentos de coleta de dados. Os resultados demonstraram diferentes e complementares concepções acerca do conceito de promoção da saúde e a realização de ações de promoção abrangentes, diversificadas e em conjunto com a equipe e a comunidade. Fatores como a reorientação do modelo de saúde, a participação da comunidade, a valorização do trabalho multiprofissional e intersetorial e o incentivo governamental para as práticas de atividades físicas foram apontados como facilitadores para a realização dessas ações. Entre as dificuldades, destacaram-se a falta de infraestrutura e de capacitação e a concepção dos demais profissionais, ainda voltada para as ações clínicas individuais, em detrimento de ações coletivas de promoção da saúde.
O estudo teve como objetivo identificar e descrever as ações de promoção à saúde relacionadas à atividade física de idosos nas unidades básicas de saúde, assim como a percepção dos responsáveis sobre essa prática. Tratou-se de uma pesquisa transversal, de abordagem quantitativa, realizada em Diamantina, Minas Gerais, em 2012. Um instrumento com 28 assertivas, organizado na forma de escala Likert, foi utilizado durante as entrevistas com 28 responsáveis por tais ações. Constataram-se 11 ações educativas de promoção da saúde relacionadas à atividade física para idosos, cinco de responsabilidade dos professores e alunos de uma instituição pública de ensino e seis de responsabilidade dos profissionais das equipes de saúde da família. As ações observadas foram ‘grupo de caminhada e exercícios (alongamentos)’, ‘grupo de coluna’ e ‘Qigong’. Os participantes demonstraram seu entendimento sobre os benefícios das atividades físicas para os idosos, o impacto dessas ações na saúde pública e a necessidade de permanente capacitação.
O objetivo deste artigo é discutir a relação entre processo de trabalho docente e a saúde de 196 professoras que atuavam em escolas municipais de educação infantil do município de Pelotas, Rio Grande do Sul, em 2011. Metodologicamente, a pesquisa se desenvolveu em duas etapas: uma quantitativa e outra qualitativa. Na dimensão quantitativa foi aplicado, sobre todo o corpo docente, o Job Content Questionnaire, cuja finalidade é investigar as rotinas ocupacionais do trabalho que são consideradas um risco à saúde dos trabalhadores. Na dimensão qualitativa, a coleta de dados se deu por meio de entrevistas semiestruturadas sobre as práticas educacionais das professoras em seu cotidiano de trabalho e o que as cerca. O eixo das entrevistas abordou o cotidiano de trabalho dessas docentes e suas percepções acerca da importância da professora de educação infantil. A análise mostrou que os discursos prevalentes reforçam a ideia do magistério como sacerdócio, naturalizando a ideia de doação e sacrifício como intrínsecas ao processo de trabalho docente.
O estudo teve por objetivo descrever o perfil sociodemográfico, de trabalho e formação de auxiliares e técnicos em saúde bucal com atuação no estado do Rio Grande do Sul. Foram analisadas as informações relatadas por 255 auxiliares e técnicos de saúde bucal que participaram do Congresso Rio-Grandense de Odontologia realizado em 2010 e 2012. A pesquisa utilizou-se de um questionário escrito, estruturado e autoaplicável, organizado em três blocos temáticos com as seguintes categorias: identificação (sexo, idade, estado civil, estado/cidade, renda, habilitação, vínculo e inscrição conselho/sindicato), formação (estabelecimento, duração, incentivo/dificuldades de atualização/formação) e processo de trabalho (competências e atribuições profissionais). Os resultados encontrados demonstraram que diferenças no processo de trabalho entre os auxiliares e técnicos de saúde bucal determinadas pelo vínculo de trabalho com o Sistema Único de Saúde estavam concentradas nas atribuições das competências de promoção e prevenção de saúde. Também se verificou que as atribuições das competências de organização do ambiente de trabalho e de atendimento clínico de saúde bucal conferem maior identidade ao trabalho desses profissionais, independentemente do vínculo. O estudo alerta para a sobreposição das competências e atribuições realizadas pelos auxiliares e técnicos de saúde bucal.
O trabalho com grupos constitui uma estratégia privilegiada pelos profissionais de saúde que envolve um processo de subjetivação e estabelecimento de vínculos comunitários. Desenvolveu-se um grupo de mulheres em tratamento pós-operatório de ombro no ambulatório de fisioterapia de um hospital instalado na cidade de Curitiba, com o objetivo de potencializar os efeitos da fisioterapia convencional, oferecendo a essas mulheres condições para melhor lidar com suas dores e limitações funcionais. Realizou-se pesquisa qualitativa que possibilitou o estabelecimento de um processo descritivo em relação ao processo grupal e o contato direto e prolongado com os sujeitos da pesquisa por meio de seis oficinas realizadas no período de outubro de 2012 a março de 2013. O relato das mulheres apontou o grupo como um espaço acolhedor, onde partilharam experiências de vida, conquistaram amizades e aprenderam com o outro. Isso permitiu um repensar sobre seu comportamento e possibilidade de mudança de atitudes. Concluiu-se que, diante da necessidade de humanização do atendimento com vistas a uma atenção integral, a utilização de grupos como apoio no processo fisioterápico pode ser uma estratégia para uma prática menos reducionista e que reconheça a necessidade do outro.
A baixa adesão ao tratamento medicamentoso constitui grave entrave para o sucesso do controle de doenças como o diabetes e a hipertensão arterial. Este artigo trata de um estudo que partiu da identificação do analfabetismo como importante causa de não adesão ao tratamento medicamentoso para diabéticos e hipertensos participantes do programa Hiperdia em unidade de saúde do município de Colombo, no estado do Paraná. Teve como objetivo avaliar o impacto de prescrição pictórica na adesão ao tratamento. Analisou-se um grupo de 63 diabéticos e hipertensos que participavam do Hiperdia, para os quais aplicou-se uma entrevista estruturada, com posterior análise do conteúdo, antes e depois da implantação de uma prescrição pictográfica. Como resultado, entre os analfabetos, observou-se a elevação da adesão de 60% para 93,33% em relação ao tratamento medicamentoso. No grupo de alfabetizados não houve mudança na adesão. Conclui-se, no entanto, que esse tipo de intervenção é limitado para a melhora da condição de saúde dos pacientes, pois o aumento da adesão se dá em relação tanto ao tratamento medicamentoso quanto à precariedade.
Neste ensaio, desenvolvemos uma discussão a respeito da saúde como processo objetivo, constituído da (e na) universalidade do ser social. Dialogamos com autores da medicina social latino-americana e da saúde coletiva, porquanto foram pioneiros nesse debate, utilizando o referencial teórico marxista. Procuramos contribuir ao trazer a ‘ontologia’ de Lukács como referencial teórico, ainda pouco utilizado no campo da saúde. Constatamos que a abordagem ontológica contribui para uma apreensão mais precisa da saúde como processo social e práxis (numa perspectiva contra-hegemônica), abrindo o caminho para se compreenderem os atuais desafios do campo, bem como se vislumbrarem seus limites e possibilidades.