e-ISSN: 1981-7746
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Este artigo tem como objetivo analisar as expectativas dos alunos em relação aos cursos de qualificação profissional do arco ocupacional saúde do Projovem Trabalhador no Rio de Janeiro, as concepções e estratégias pedagógicas utilizadas nos cursos e as mudanças ocorridas em sua situação social nas dimensões educacional, econômica, psicossocial e político-social. Trata-se de pesquisa qualitativa que utilizou grupos focais e entrevistas com os 58 alunos dos cursos. Na dimensão educacional, a qualificação profissional recebida foi insuficiente e não preparou os alunos para enfrentar os desafios do mercado de trabalho. A maioria continua buscando cursos como forma de aumentar as chances de trabalho. Na dimensão econômica, a maior parte dos jovens permaneceu desempregada, e na dimensão psicossocial observou-se referência às questões relativas à subjetividade, à autoestima, melhor comunicação e sociabilidade. Quanto à dimensão político-social, o maior ganho dos alunos foi na compreensão dos seus direitos como cidadãos, mas esta não os levou a atuar nos espaços da sociedade civil, como sindicatos e movimentos sociais. Conclui-se que as percepções dos alunos e os sentidos que atribuem ao Programa refletem as contradições da política, indicando que os jovens não são somente receptores passivos, mas sujeitos de direitos e protagonistas que reivindicam uma formação que atenda aos seus interesses.
Este estudo analisa os referenciais teóricos e epistemológicos da educação que constam das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) relativas à formação profissional em saúde no Brasil. Para tanto, resgata a historicidade da relação educação, saúde e sociedade e as reformas do ensino médico; descreve o movimento de instituição das DCN para a área da saúde no país; e discute as relações entre o referencial da pedagogia das competências, que alicerça as DCN, e a concepção de direito à saúde formulada pela VIII Conferência Nacional de Saúde. Os resultados desta investigação sugerem a hipótese de que, para formar profissionais de saúde comprometidos com os princípios da VIII Conferência Nacional de Saúde e com a compreensão da saúde como direito, é necessário questionar os limites da pedagogia das competências adotada pelas DCN, bem como construir uma proposta de formação que dialogue com o pressuposto da transformação social, de modo que a sua didática possibilite aos estudantes evoluírem criticamente da práxis individual e comum para a práxis histórica.
O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) visa qualificar a força de trabalho para o Sistema Único de Saúde. O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a contribuição de três experiências do PET-Saúde para a formação médica. Com base no materialismo históricodialético, buscou-se compreender a inserção do PET-Saúde na educação médica como fenômeno social subordinado às condições históricas de produção econômica. Os dados foram colhidos de relatos dos estudantes, tutores, preceptores e coordenadores de três grupos do PET-Saúde de duas universidades de Curitiba, por meio de entrevistas e grupos focais. Concluiuse que, em dois grupos, as experiências vivenciadas contribuíram para a formação de trabalhadores flexíveis, efetivos na aplicação da tecnologia para a solução dos problemas nos limites impostos pela ordem vigente. No terceiro grupo, a experiência contribuiu para a formação de sujeitos críticos, capazes de questionar os limites impostos pelo Estado e pela sociedade à plena realização da vida.
O objetivo deste estudo é avaliar os efeitos de um programa de educação popular em saúde dirigido a idosos comunitários sobre suas atitudes em relação à velhice. O programa foi baseado na metodologia de Paulo Freire e na política de envelhecimento ativo da Organização Mundial da Saúde. Constou de 16 sessões semanais de 150 minutos, oferecidas a dois grupos de idosos (n=16) com 60 a 75 anos (M=66,88±5,4). Foi realizado pré-teste, pós-teste e seguimento contendo medidas sociodemográficas, de saúde, de estilo de vida e de atitudes em relação à velhice. Análises de conteúdo mostraram diminuição estatisticamente significante na frequência de atitudes negativas, aumento das positivas e aumento da percepção de que a velhice comporta tanto ganhos quanto perdas. Os resultados sugerem que intervenções desse tipo podem favorecer a qualidade de vida de idosos, promovendo uma visão mais positiva da própria velhice. O programa desenvolvido também contribuiu para o cotidiano de profissionais que atuam na área de educação e saúde.
Este estudo teve por objetivo avaliar a percepção de acadêmicos formandos do curso de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná, quanto ao atual projeto pedagógico. Participaram 91 formandos, os quais responderam a um questionário autoaplicado. A maioria dos alunos mostrou conhecer o projeto pedagógico do curso, com uma percepção positiva, e identificou que contempla as características das Diretrizes Curriculares Nacionais. As competências e habilidades, expressas nas Diretrizes e proporcionadas pelo curso, aquelas nas quais os formandos se consideram mais aptos a desempenhar são: ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde; disposição ao aprendizado contínuo; e tomada de decisões e atuação em equipes multiprofissionais. Quanto à estrutura curricular, grande parte dos alunos percebeu duplicação de conteúdos entre as disciplinas e dificuldades em oferecer atenção integral aos pacientes. No entanto, a maioria identifica a integração entre teoria e prática como ideal ou satisfatória. Os resultados deste estudo, somados à avaliação institucional, mostram que, apesar da percepção positiva da comunidade acadêmica, existem algumas fragilidades no atual projeto pedagógico do curso que indicam a necessidade de se avançar na construção de um currículo integrado.
O presente artigo se propõe a fazer uma análise do uso generalizado da expressão 'qualidade de vida' nas linguagens técnicas e cotidianas nas sociedades ocidentais contemporâneas. A ampla utilização desse termo é acompanhada por uma indeterminação de seu significado e por uma concepção naturalizada de sua origem. Objetivo, então, analisar os processos pelos quais o termo qualidade de vida foi impregnado de sentido na nossa cultura, assim como argumentar que a grande relevância simbólica adquirida contemporaneamente pela qualidade de vida nas ciências biomédicas, nas políticas de saúde e nas práticas individuais relativas à saúde está relacionada com um mais amplo processo de inserção dos aspectos biológicos da vida no campo político. Dessa forma, apresento brevemente o surgimento e o desenvolvimento da biopolítica na modernidade, assim como analiso algumas das características da biopolítica contemporânea, a partir do que são apresentadas as concepções de estilo de vida, promoção de saúde, risco, autonomia e responsabilidade, que, articuladas, constituem o atual campo semântico no qual a saúde é problematizada. Dessa forma, procuro situar a atual preocupação pela qualidade de vida, assim como apresentar alguns dos problemas que se articulam a ela, como a responsabilidade individual pela própria saúde e a medida da qualidade de vida.
Trata-se de um estudo descritivo exploratório com abordagem qualitativa, que teve como objetivo compreender como coordenadores de serviços de saúde, envolvidos no cuidado dos sujeitos em sofrimento psíquico, percebem a organização da rede de atenção em saúde mental de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada e de vinhetas nos meses de abril e maio de 2008. Participaram da pesquisa dez coordenadores de serviços de saúde. Os dados foram trabalhados mediante análise temática e, posteriormente, agrupados em três núcleos de sentido: o entendimento dos fluxos assistenciais; o funcionamento da rede; e as dificuldades e potencialidades vislumbradas. Evidenciou-se uma rede em processo de construção, destacando-se a existência de movimentos que visam à melhoria da articulação entre os serviços e consequente qualificação da assistência para os usuários da rede de cuidado em saúde mental. Propõe-se um estreitamento das relações entre os serviços, intensificando a articulação entre a atenção primária, os serviços substitutivos e a atenção hospitalar. Destaca-se o papel da gestão nesse processo, considerando a necessidade de envolvimento de diferentes setores para a efetivação de um serviço de atenção à saúde mental mais qualificado.
Este ensaio tem como objetivo central analisar a divisão sexual do trabalho em torno da dissociação do trabalho produtivo do espaço da reprodução familiar, ocorrida no processo de instalação e desenvolvimento do capitalismo no Brasil, particularmente com base em reflexões sobre o contexto histórico de finais do século XIX até meados do século XX. Nossa intenção é descaracterizar análises acerca da ideologia naturalista que legitima princípios de separação entre trabalhos de homens e trabalhos de mulheres. Para tanto, tratamos de explicar essa dissociação a partir de transformações na família como base produtiva, bem como da relação entre produção e reprodução na unidade rural (tradicional). Procuramos também relatar como ocorreram algumas transformações nas práticas de família tradicional, mediante a separação entre as atividades produtivas e o dia a dia do lar, o que contribuiu para a gênese da sociedade urbanoindustrial, em face de uma consonância entre as unidades tradicionais com as unidades modernas de produção.
O objetivo deste trabalho é apresentar as experiências docentes no emprego do memorial de formação do cuidado como metodologia de pesquisa-formação na elaboração de trabalhos de conclusão de curso do Curso de Enfermagem. Por meio dessa abordagem de ensino, pretende-se que o estudante reflita sobre o seu próprio processo de formação a fim de tomar consciência dos acontecimentos, estratégias e espaços que, para ele, ao longo da sua vida, contribuíram como formadores. Nesse sentido, a construção do memorial oportuniza o resgate de leituras a respeito do cuidado, possibilitando aos estudantes a narrativa de suas experiências de formação, de modo significativo, no decorrer do ensino. A reflexão sobre os aprendizados durante a elaboração do memorial de formação permite que o processo de narrar e de escutar a si e ao Outro seja fator de busca de novas identidades profissionais e de novos conhecimentos. Assim, o memorial é um dispositivo pedagógico de reflexão crítica que reinventa o cuidado da pessoa consigo mesma e o cuidado com o Outro, fato que é de extre ma relevância para o futuro profissional de saúde e para o educador.