e-ISSN: 1981-7746
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Documentos oficiais destinados a reorientar a formação dos profissionais da saúde no Brasil foram utilizados para identificar princípios pedagógicos inovadores. Tal levantamento visou a explicitar a vinculação desses princípios com determinada corrente pedagógica, problematizando as origens teórico-metodológicas dos atuais referenciais para o ensino profissional em nível de graduação na área. A reorientação da formação em saúde se manifesta em diferentes iniciativas oficiais: nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a graduação, na Política Nacional de Educação Permanente em Saúde e no Pró-Saúde. Analisaram-se os princípios pedagógicos recorrentemente citados nos documentos: a aprendizagem significativa, o professor facilitador, o aprender a aprender e as metodologias ativas. Com base no estudo da produção teórica nacional acerca dos fundamentos teórico-práticos das correntes pedagógicas, procedeu-se ao cotejamento dos princípios pedagógicos nesses referidos documentos. Em conclusão, os princípios pedagógicos explicitados se articulam aos referenciais teórico-metodológicos das pedagogias não diretivas, que, ao serem contextualizadas, inserem-se temporalmente nos primeiros anos do século XX, tendo como foco as propostas para a educação infantil.
Trata-se de um estudo descritivo e exploratório que objetivou avaliar os padrões de qualidade em saúde em 13 unidades de terapia intensiva neonatal e pediátrica da rede pública brasileira nos períodos anteriores (diagnóstico situacional) e posteriores (reavaliação) ao desenvolvimento do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde. Foi elaborado um instrumento para avaliação diagnóstica com base na portaria n. 3.432, de 12 de agosto de 1998. A capacitação foi planejada mediante o diagnóstico situacional. Foram mensurados dez critérios de avaliação e, na fase diagnóstica, cinco apresentavam 40 % de índice de conformidade. O programa de capacitação foi estruturado em treinamento on the job (12 horas), totalizando 290 horas, e curso com visitas monitoradas (30 horas), totalizando 810 horas/homem e média de 180 horas/homem. Na reavaliação houve elevação dos índices em nove dos dez critérios avaliados. A metodologia adotada possibilitou o desenvolvimento de um programa educacional com base no diagnóstico situacional, com indicadores de treinamento satisfatórios, considerando a peculiaridade do setor público de saúde. A participação dos profissionais do hospital de excelência foi relevante para o alcance dos resultados, proporcionando espaços para discussão e troca de experiências.
Este artigo apresenta reflexões com base na experiência e na pesquisa desenvolvida com as mulheres camponesas vinculadas atualmente ao Movimento de Mulheres Camponesas e também na interação com grupos, movimentos, articulações, práticas e coletivos de educação popular em saúde que atuam em todas as regiões do Brasil. Identificamos as bases do contexto e do cotidiano de vida, de resistência e de luta dessas mulheres camponesas, suas interfaces com os processos de saúde-adoecimento, bem como as contribuições político-pedagógicas que emergem nas práticas de cuidado, promoção e educação popular em saúde, próprias desses atores sociais.
Em diversos países, e no Brasil em particular, a adoção do enfoque da atenção primária como reordenador de sistemas de saúde tem se consolidado dando destaque ao trabalhador comunitário, no Sistema Único de Saúde (SUS) denominado agente comunitário de saúde. Compreendendo que esse fato tem raízes antigas, este texto, com perspectiva histórica, se desenvolve com base em um exame de documentos e de bibliografia, orientando-se pelo mapeamento de projetos postos em disputa. Na análise, distinguiram-se tensões que perpassaram a configuração de propostas de atenção à saúde com as seguintes características: atuação contínua e vinculação ao território; educação em saúde como estratégia relevante; e conexão entre os serviços de saúde e as populações locais, mediada por um trabalhador que tem nessa função seu principal papel social. Analisam-se também características da constituição do trabalho do agente comunitário de saúde no SUS que representam desafios para a qualificação desses trabalhadores, tendo como parâmetro os direitos associados ao trabalho, a complexidade do trabalho em saúde e o seu papel técnico e político.
Este estudo analisa a formação inicial do enfermeiro e seu vínculo com o paradigma ético-humanista, especialmente as relações interpessoais. Adotou-se na pesquisa a abordagem qualitativa, do tipo descritivo-exploratório. Os sujeitos eram egressos e docentes do curso de enfermagem de uma faculdade particular da cidade de Curitiba, no Paraná. A coleta de dados foi feita em 2009, com utilização das técnicas de análise documental do projeto pedagógico do curso de graduação em enfermagem, aplicação de questionário aos egressos da graduação em enfermagem e entrevista semiestruturada realizada com enfermeiros-docentes. As informações coletadas foram submetidas à análise de conteúdo, da qual emergiram três categorias: totalidade/multidimensionalidade; interdisciplinaridade/disciplinaridade/dicotomia teoria-prática; relações interpessoais/competência interpessoal. Os resultados revelam que tanto docentes como discentes percebem a formação acadêmica ainda centrada nos referenciais técnico-científicos, porém com uma intencionalidade real de formação também de competências voltadas às relações humanas. Este estudo permitiu identificar a influência do paradigma ético-humanista proposto pelas diretrizes curriculares no processo de formação do enfermeiro, além de reforçar a necessidade de novas possibilidades de desdobramentos das ideias capazes de se fundamentarem em princípios pedagógicos que visem à totalidade do ser em formação e do ser assistido pelo profissional da saúde.
O artigo apresenta a discussão da compreensão da terceirização do trabalho docente no ensino superior privado, realizado por meio de cooperativas de mão de obra, à luz da responsabilidade social da educação superior. Conceitualiza a responsabilidade social, privilegiando duas abordagens: a normativa, de ordem legal, e a ética, direcionada ao desenvolvimento humano. Examina a coerência ética que deve existir na gestão universitária no equacionamento das exigências de maximização de recursos visando a ganhos de competitividade, com os princípios e valores que deveriam nortear os empreendimentos educacionais dentro de um cenário marcado pelas exigências e demandas do Estado e da sociedade por uma maior responsabilidade social da educação superior, principalmente do setor privado.
Este trabalho avalia como as organizações populares discutem as políticas públicas de saúde com base na análise da participação popular e da construção da cidadania em Florianópolis, no estado de Santa Catarina. O trabalho foi desenvolvido com instituições e organizações de controle social. A estratégia metodológica utilizada foi a de pesquisa qualitativa, tendo como técnica de análise o discurso do sujeito coletivo. Os discursos demonstram que os sujeitos têm uma compreensão de saúde com elementos que remetem a um conceito biologicista, mas que também avançam para um conceito ampliado. Observou-se que a cidadania não se limita a conquista de direitos apenas, mas estende-se para a luta por sua efetivação. Nesse sentido, a participação surge como um dever a ser exercido pelo coletivo.
Este estudo discute a forma como os profissionais da equipe de saúde da família pensam e representam a educação em saúde e a prática educativa que realizam. Os sujeitos da pesquisa (n=248) - médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agente comunitário de saúde de 20 unidades básicas de saúde de Belo Horizonte - foram entrevistados mediante a utilização da técnica de evocação livre e da teoria das representações sociais. Solicitou-se aos sujeitos que verbalizassem cinco palavras que lhes ocorressem imediatamente em relação à educação em saúde, classificando-as em positiva ou negativa. Utilizou-se o software Evoc e calculou-se a frequência simples de ocorrência, a média ponderada de ocorrência em função da ordem de evocação e a média das ordens ponderadas do conjunto dos termos evocados. Construiu-se o quadro de quatro casas composto do núcleo central, elementos de contraste e periféricos da representação. Médicos e enfermeiros compartilham conteúdos representacionais entre si, expressando representações sociais similares, ao apresentarem nos possíveis núcleos centrais 'capacitação' e 'prevenção'. Auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde se assemelham por meio dos possíveis elementos centrais 'educação' e 'prevenção'. O foco recai na transmissão de orientações com o objetivo de persuadir os indivíduos à adoção de modos de vida saudáveis.
O objetivo desta investigação foi conhecer as percepções e formas de cuidar de cuidadoras comunitárias de crianças menores de três anos. Trata-se de um estudo exploratório-descritivo com análise qualitativa dos dados. A definição dos sujeitos do estudo foi realizada por meio de mapeamento de possíveis cuidadores comunitários de crianças menores de três anos de idade. Para coleta dos dados, foi utilizada entrevista semiestruturada, com 18 cuidadoras comunitárias, em suas residências. Foi realizada análise categorial temática dos dados, por meio da qual foram identificadas duas categorias: o cuidado na perspectiva do cuidador e formas de cuidar. A primeira categoria evidenciou que o cuidado de crianças menores de três anos é uma tarefa que exige responsabilidade e comprometimento. A segunda categoria mostrou que as cuidadoras priorizam a alimentação, higiene e segurança da criança e consideram o brincar importante para estimular a aprendizagem e a socialização da criança. Este estudo mostrou a necessidade de se propiciar mais espaços de diálogo entre mães, pais, outros familiares, cuidadoras comunitárias e profissionais que lidam com a infância, com o intuito de se ampliar os conhecimentos sobre o cuidado infantil.
Este ensaio apresenta uma discussão a respeito dos novos cenários da formação do profissional da saúde para o Sistema Único de Saúde (SUS) e sua relação com as propostas apresentadas no relatório Health Professionals for a New Century: Transforming Education to Strengthen Health Systems in an Interdependent World. O relatório foi elaborado por uma comissão independente fo rmada por 18 profissionais e acadêmicos de vários países, liderada pelos médicos e professores Julio Frenk e Lincoln Chen, criada em janeiro de 2010, nos Estados Unidos pelo setor de saúde para homenagear o centenário do Relatório Flexner. A finalidade do relatório foi apresentar recomendações para a adoção de inovações educacionais e institucionais voltadas para a formação de uma nova geração de profissionais mais bem equipados para lidar com os desafios presentes e futuros da área, numa perspectiva global de promoção da saúde. Essa discussão resultou na percepção de que, apesar de políticas e programas governamentais criados no Brasil desde 2001, e de iniciativas institucionais pontuais, a formação dos profissionais da área da saúde ainda é fortemente orientada por uma concepção pedagógica hospitalocêntrica que categoriza os adoecimentos por critérios biologicistas e que dissocia clínica e política, o que não é adequado para contribuir para o fortalecimento do SUS.
O psicanalista Christian Ingo Lenz Dunker é professor livre-docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Psicologia e Psicanálise, com o livro Estrutura e constituição da clínica psicanalítica: uma arqueologia das práticas de cura, psicoterapia e tratamento (Annablume, 2011), tem uma importante obra nessas duas áreas, com publicação de artigos e uma seção nas revistas Mente e Cérebro e Cult. Nesta entrevista,1 Dunker trata de temas como a atualidade da psicanálise, sua interface com o pensamento dialético, a questão da ideologia e outros temas que contribuem para compreender o mal-estar hoje, em especial, em países de capitalismo hipertardio como o Brasil.
As iniciativas nacionais que se propõem contribuir para a reorientação da formação e do modelo de atenção nos levaram a descrever a experiência de implantação do Programa de Educação para o Trabalho (PET)-Saúde/Vigilância em Saúde (VS) em Sobral, Ceará. Trata-se de estudo descritivo, do tipo relato de experiência, vivenciado por estudantes dos cursos de enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e medicina e odontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), tutores e preceptores do PET-Saúde/VS. As informações foram registradas pelos tutores e preceptores durante as atividades desenvolvidas desde a implantação do programa (julho de 2010). O processo de trabalho desempenhado no PET-Saúde/VS compreende três eixos estruturantes que se intercomunicam, constando vivências teórico-conceituais, vivências no serviço e vivências de pesquisa. Para garantir a interface ensino-serviço e a integração entre as ações de vigilância em saúde e atenção básica, construímos uma 'tecnologia' pedagógica que chamamos de tecnologia de educação permanente na vigilância em saúde. A experiência permitiu aos estudantes uma visão mais ampla, acerca das condições de saúde da população, da importância do conhecimento sobre problemas locais para o trabalho da vigilância em saúde, a fim de prestar assistência qualificada e voltada para a realidade de cada território.