e-ISSN: 1981-7746
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O objetivo deste estudo é avaliar os efeitos de um programa de educação popular em saúde dirigido a idosos comunitários sobre suas atitudes em relação à velhice. O programa foi baseado na metodologia de Paulo Freire e na política de envelhecimento ativo da Organização Mundial da Saúde. Constou de 16 sessões semanais de 150 minutos, oferecidas a dois grupos de idosos (n=16) com 60 a 75 anos (M=66,88±5,4). Foi realizado pré-teste, pós-teste e seguimento contendo medidas sociodemográficas, de saúde, de estilo de vida e de atitudes em relação à velhice. Análises de conteúdo mostraram diminuição estatisticamente significante na frequência de atitudes negativas, aumento das positivas e aumento da percepção de que a velhice comporta tanto ganhos quanto perdas. Os resultados sugerem que intervenções desse tipo podem favorecer a qualidade de vida de idosos, promovendo uma visão mais positiva da própria velhice. O programa desenvolvido também contribuiu para o cotidiano de profissionais que atuam na área de educação e saúde.
Este estudo teve por objetivo avaliar a percepção de acadêmicos formandos do curso de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná, quanto ao atual projeto pedagógico. Participaram 91 formandos, os quais responderam a um questionário autoaplicado. A maioria dos alunos mostrou conhecer o projeto pedagógico do curso, com uma percepção positiva, e identificou que contempla as características das Diretrizes Curriculares Nacionais. As competências e habilidades, expressas nas Diretrizes e proporcionadas pelo curso, aquelas nas quais os formandos se consideram mais aptos a desempenhar são: ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde; disposição ao aprendizado contínuo; e tomada de decisões e atuação em equipes multiprofissionais. Quanto à estrutura curricular, grande parte dos alunos percebeu duplicação de conteúdos entre as disciplinas e dificuldades em oferecer atenção integral aos pacientes. No entanto, a maioria identifica a integração entre teoria e prática como ideal ou satisfatória. Os resultados deste estudo, somados à avaliação institucional, mostram que, apesar da percepção positiva da comunidade acadêmica, existem algumas fragilidades no atual projeto pedagógico do curso que indicam a necessidade de se avançar na construção de um currículo integrado.
O presente artigo se propõe a fazer uma análise do uso generalizado da expressão 'qualidade de vida' nas linguagens técnicas e cotidianas nas sociedades ocidentais contemporâneas. A ampla utilização desse termo é acompanhada por uma indeterminação de seu significado e por uma concepção naturalizada de sua origem. Objetivo, então, analisar os processos pelos quais o termo qualidade de vida foi impregnado de sentido na nossa cultura, assim como argumentar que a grande relevância simbólica adquirida contemporaneamente pela qualidade de vida nas ciências biomédicas, nas políticas de saúde e nas práticas individuais relativas à saúde está relacionada com um mais amplo processo de inserção dos aspectos biológicos da vida no campo político. Dessa forma, apresento brevemente o surgimento e o desenvolvimento da biopolítica na modernidade, assim como analiso algumas das características da biopolítica contemporânea, a partir do que são apresentadas as concepções de estilo de vida, promoção de saúde, risco, autonomia e responsabilidade, que, articuladas, constituem o atual campo semântico no qual a saúde é problematizada. Dessa forma, procuro situar a atual preocupação pela qualidade de vida, assim como apresentar alguns dos problemas que se articulam a ela, como a responsabilidade individual pela própria saúde e a medida da qualidade de vida.
Trata-se de um estudo descritivo exploratório com abordagem qualitativa, que teve como objetivo compreender como coordenadores de serviços de saúde, envolvidos no cuidado dos sujeitos em sofrimento psíquico, percebem a organização da rede de atenção em saúde mental de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada e de vinhetas nos meses de abril e maio de 2008. Participaram da pesquisa dez coordenadores de serviços de saúde. Os dados foram trabalhados mediante análise temática e, posteriormente, agrupados em três núcleos de sentido: o entendimento dos fluxos assistenciais; o funcionamento da rede; e as dificuldades e potencialidades vislumbradas. Evidenciou-se uma rede em processo de construção, destacando-se a existência de movimentos que visam à melhoria da articulação entre os serviços e consequente qualificação da assistência para os usuários da rede de cuidado em saúde mental. Propõe-se um estreitamento das relações entre os serviços, intensificando a articulação entre a atenção primária, os serviços substitutivos e a atenção hospitalar. Destaca-se o papel da gestão nesse processo, considerando a necessidade de envolvimento de diferentes setores para a efetivação de um serviço de atenção à saúde mental mais qualificado.
Este artigo tem como objetivo analisar as expectativas dos alunos em relação aos cursos de qualificação profissional do arco ocupacional saúde do Projovem Trabalhador no Rio de Janeiro, as concepções e estratégias pedagógicas utilizadas nos cursos e as mudanças ocorridas em sua situação social nas dimensões educacional, econômica, psicossocial e político-social. Trata-se de pesquisa qualitativa que utilizou grupos focais e entrevistas com os 58 alunos dos cursos. Na dimensão educacional, a qualificação profissional recebida foi insuficiente e não preparou os alunos para enfrentar os desafios do mercado de trabalho. A maioria continua buscando cursos como forma de aumentar as chances de trabalho. Na dimensão econômica, a maior parte dos jovens permaneceu desempregada, e na dimensão psicossocial observou-se referência às questões relativas à subjetividade, à autoestima, melhor comunicação e sociabilidade. Quanto à dimensão político-social, o maior ganho dos alunos foi na compreensão dos seus direitos como cidadãos, mas esta não os levou a atuar nos espaços da sociedade civil, como sindicatos e movimentos sociais. Conclui-se que as percepções dos alunos e os sentidos que atribuem ao Programa refletem as contradições da política, indicando que os jovens não são somente receptores passivos, mas sujeitos de direitos e protagonistas que reivindicam uma formação que atenda aos seus interesses.
Este estudo analisa os referenciais teóricos e epistemológicos da educação que constam das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) relativas à formação profissional em saúde no Brasil. Para tanto, resgata a historicidade da relação educação, saúde e sociedade e as reformas do ensino médico; descreve o movimento de instituição das DCN para a área da saúde no país; e discute as relações entre o referencial da pedagogia das competências, que alicerça as DCN, e a concepção de direito à saúde formulada pela VIII Conferência Nacional de Saúde. Os resultados desta investigação sugerem a hipótese de que, para formar profissionais de saúde comprometidos com os princípios da VIII Conferência Nacional de Saúde e com a compreensão da saúde como direito, é necessário questionar os limites da pedagogia das competências adotada pelas DCN, bem como construir uma proposta de formação que dialogue com o pressuposto da transformação social, de modo que a sua didática possibilite aos estudantes evoluírem criticamente da práxis individual e comum para a práxis histórica.
O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) visa qualificar a força de trabalho para o Sistema Único de Saúde. O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a contribuição de três experiências do PET-Saúde para a formação médica. Com base no materialismo históricodialético, buscou-se compreender a inserção do PET-Saúde na educação médica como fenômeno social subordinado às condições históricas de produção econômica. Os dados foram colhidos de relatos dos estudantes, tutores, preceptores e coordenadores de três grupos do PET-Saúde de duas universidades de Curitiba, por meio de entrevistas e grupos focais. Concluiuse que, em dois grupos, as experiências vivenciadas contribuíram para a formação de trabalhadores flexíveis, efetivos na aplicação da tecnologia para a solução dos problemas nos limites impostos pela ordem vigente. No terceiro grupo, a experiência contribuiu para a formação de sujeitos críticos, capazes de questionar os limites impostos pelo Estado e pela sociedade à plena realização da vida.
Este ensaio tem como objetivo central analisar a divisão sexual do trabalho em torno da dissociação do trabalho produtivo do espaço da reprodução familiar, ocorrida no processo de instalação e desenvolvimento do capitalismo no Brasil, particularmente com base em reflexões sobre o contexto histórico de finais do século XIX até meados do século XX. Nossa intenção é descaracterizar análises acerca da ideologia naturalista que legitima princípios de separação entre trabalhos de homens e trabalhos de mulheres. Para tanto, tratamos de explicar essa dissociação a partir de transformações na família como base produtiva, bem como da relação entre produção e reprodução na unidade rural (tradicional). Procuramos também relatar como ocorreram algumas transformações nas práticas de família tradicional, mediante a separação entre as atividades produtivas e o dia a dia do lar, o que contribuiu para a gênese da sociedade urbanoindustrial, em face de uma consonância entre as unidades tradicionais com as unidades modernas de produção.
O objetivo deste trabalho é apresentar as experiências docentes no emprego do memorial de formação do cuidado como metodologia de pesquisa-formação na elaboração de trabalhos de conclusão de curso do Curso de Enfermagem. Por meio dessa abordagem de ensino, pretende-se que o estudante reflita sobre o seu próprio processo de formação a fim de tomar consciência dos acontecimentos, estratégias e espaços que, para ele, ao longo da sua vida, contribuíram como formadores. Nesse sentido, a construção do memorial oportuniza o resgate de leituras a respeito do cuidado, possibilitando aos estudantes a narrativa de suas experiências de formação, de modo significativo, no decorrer do ensino. A reflexão sobre os aprendizados durante a elaboração do memorial de formação permite que o processo de narrar e de escutar a si e ao Outro seja fator de busca de novas identidades profissionais e de novos conhecimentos. Assim, o memorial é um dispositivo pedagógico de reflexão crítica que reinventa o cuidado da pessoa consigo mesma e o cuidado com o Outro, fato que é de extre ma relevância para o futuro profissional de saúde e para o educador.