e-ISSN: 1981-7746
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Os riscos de precarização e maior vulnerabilidade dos jovens às recentes políticas econômicas e financeiras restritivas em Portugal configuram transformações significativas nos seus percursos educativos e profissionais. As transições para o mercado de trabalho tornam-se incertas e subjetivas, comprometem a capacidade dos jovens de projetarem os seus futuros e oportunidades profissionais. Este artigo destaca os processos de diferenciação que instauram desigualdades sociais nos itinerários de transição profissional. Ao combinar uma metodologia que articula estatísticas oficiais e evidências empíricas de estudos, sustenta-se uma análise crítica das fragilidades do sistema educativo e do mercado de trabalho português no contexto da União Europeia. Dos principais resultados, destacam-se as fragilidades de inserção dos jovens, visíveis na maior incidência ao desemprego e a empregos precários e maior restrição no acesso à proteção de direitos sociais. Os (novos) riscos ampliam-se, acentuando a individualização nos processos de recrutamento e a inexistência de carreiras e planejamento do futuro profissional, o que contribui para um agravamento das desigualdades (inter)geracionais e sociais na relação com o trabalho e o emprego.
O objetivo do artigo foi refletir sobre as bases conceituais da educação permanente em saúde à luz dos conceitos de reprodução, de Bourdieu, e contra-hegemonia, de Gramsci. Analisa criticamente suas interfaces com a política, a gestão e a organização dos serviços de saúde, bem como os processos contra-hegemônicos na criação de espaços para promoção de transformações nas práticas de saúde. Busca também levantar um conjunto de hipóteses que possibilitem estudos sobre educação permanente em saúde, seus desafios e potencialidades no âmbito da implantação do Sistema Único de Saúde.
Neste artigo, discutem-se as diferenciações sociais apresentadas como desafios aos agentes comunitários de saúde no seu trabalho cotidiano. O estudo consistiu em analisar as configurações sociais construídas no território adscrito, com base na ação dos agentes. Destacam-se as ferramentas analíticas que permitem compreender os diferentes padrões de estratificação social entre grupos pertencentes a um mesmo ambiente socioeconômico. O método de pesquisa adotado baseou-se na abordagem qualitativa por meio de dez entrevistas semiestruturadas e acompanhamento em uma clínica da família do município do Rio de Janeiro em 2016 e 2017, valendo-se de técnicas socioetnográficas. Os resultados apontam para a existência de dificuldades que impedem a adesão da população adscrita aos serviços ofertados pela clínica da família, assim como para a identificação de grupos com diferenças de poder e prestígio. Reitera-se a questão sobre como as equipes de saúde lidam com configurações sociais específicas. Conclui-se que as relações estabelecidas no espaço que circunscreve as unidades de saúde da família necessitam ser constantemente monitoradas, para identificar possíveis diferenças na adesão decorrentes das configurações sociais específicas da população adscrita aos serviços de saúde.
Apresentamos lições que resultaram de atividades de capacitação dos gestores conduzidas em Portugal no contexto da reforma da atenção primária em saúde e nos países africanos de língua oficial portuguesa, em termos do planejamento e da gestão dos serviços hospitalares e de saúde pública. Descrevemos três programas de formação-ação realizados pela Unidade de Saúde Pública Internacional do Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Lisboa, com o apoio de parceiros portugueses e internacionais como a Organização Mundial da Saúde e o Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Os programas foram desenvolvidos na base da identificação das necessidades de competências dos participantes e focaram a resolução de problemas concretos com o objetivo de ajudar os gestores a enfrentar as dificuldades inerentes aos processos de reforma. Apesar do seu valor intrínseco, por si só não se mostram suficientes, uma vez que são sempre necessários outros mecanismos, como o acompanhamento continuado dos gestores, sistemas de incentivos coerentes com os objetivos das reformas, ferramentas e recursos (financiamento, sistemas de informação, pessoal qualificado suficiente) adequados para implementar as mudanças. Além disso, a sustentabilidade das intervenções de fortalecimento das capacidades carece de apoio continuado dos decisores políticos.
O objetivo foi analisar o diálogo no agir-aprendente do educando e no agir-educativo das educadoras no movimento ensino-aprendizagem em um curso técnico de nível médio em enfermagem promovido pela Escola de Formação Técnica em Saúde do Sistema Único de Saúde, para comunidade em contexto de vulnerabilidade social. Estudo qualitativo, do tipo estudo de caso, ancorado no referencial de Paulo Freire. Participaram doze educandos e cinco educadoras, com os dados coletados entre dezembro de 2014 e setembro de 2015 por meio de entrevista semiestruturada, observações registradas em diário de campo e análise documental. O diálogo no uso de metodologias inovadoras e problematizadoras proporcionou a construção e estreitamento de vínculos, contextualização do conteúdo teórico com base no território e na leitura de mundo dos educandos em busca de uma relação dialógica. O potencial formativo embasado no pensamento freireano orientou a reflexão e prática fundamentada no diálogo que contribuiu para o processo educativo emancipatório e plural. Concluímos que o diálogo proporcionou uma relação de proximidade entre educadores e educandos, revelando-se como ideia/força, favorecendo a dinâmica sensível e crítica que permeou e constituiu o movimento ensino-aprendizagem para educandos em contexto de vulnerabilidade social.
Este artigo teve o objetivo de compartilhar questões e reflexões provocadas pelo desafio de organizar o projeto curricular, em regime de ciclos, dos cursos de saúde da Universidade Federal do Sul da Bahia. Inspirado no sistema universitário norte-americano, que tem os colleges como nível inicial de formação, o primeiro ciclo dos cursos de saúde da instituição compõe-se de um bacharelado interdisciplinar em saúde, com duração de três anos, e uma proposta de formação docente para o ensino médio com foco na promoção da saúde, qualidade de vida e educação inclusiva, ainda em fase preliminar de elaboração, o que reforça a integração da universidade no sistema geral de educação. A inspiração da obra e vida de Anísio Teixeira se revela em dois planos: em seu projeto de uma universidade popular e no conceito de escola democrática, incorporada como efeito prático no modelo de Escola Parque, especialmente nos temas da educação integral, inclusiva e fundada em práticas concretas. Em relação aos processos de ensino-aprendizagem presentes na obra anisiana, o artigo destaca a valorização de pedagogias críticas fundadas na capacidade de ‘aprender fazendo’ e o papel da ciência e da tecnologia como distintivo cultural da modernidade.
Neste artigo, discutem-se pesquisas realizadas em Portugal e no Brasil sobre saberes profissionais respectivamente de trabalhadores sociais e de técnicos em saúde, apoiados no conceito de sociocognição – o conhecimento implicado na experiência social –, cujo sentido analítico requer identificar situações de trabalho, competências práticas e cognitivas ou modos de cognição que estruturam e sustentam a ação dos trabalhadores nas respectivas situações. Tais elementos do trabalho profissional foram organizados em uma tipologia da sociocognição em situação. Os saberes profissionais, com caráter predominantemente tácito, equivalem aos conhecimentos produzidos e mobilizados nessas situações. As primeiras pesquisas realizadas no Brasil, nesse sentido, foram feitas com técnicos em saúde bucal, tendo-se, posteriormente, extrapolado a análise, em alguns aspectos, para o conjunto dos técnicos de equipes da saúde da família. Dentre os resultados, pode-se destacar que a principal competência prática demonstrada pelos técnicos estudados é o acolhimento, enquanto o modo de cognição ou competência cognitiva que mais se manifesta é o de caráter intuitivo associativo ou seletivo. A experiência prática tende a ser mais reconhecida do que a formação técnica, ainda que as etnografias sobre saberes profissionais possam ajudar a tornar mais explícita a relação entre essas duas dimensões do trabalho profissional.
Trata-se de revisão narrativa de literatura para identificar diferentes abordagens teóricas que vêm sendo utilizadas na discussão sobre o trabalho em saúde. Nosso objetivo foi atualizar o conhecimento sobre essa temática pelo mapeamento das diferentes estratégias metodológicas. Organizou-se a bibliografia segundo três perspectivas de análise: mercado – os sujeitos do trabalho vistos como força produtiva; Estado – os sujeitos do trabalho entendidos como elo entre o Estado e a sociedade; e atividade – a dimensão subjetiva do trabalho. Tal estratégia possibilitou uma visão integrada do campo, apontando os diferentes, porém complementares, caminhos metodológicos para a análise do trabalho no setor público de saúde.
A crescente complexidade das necessidades de saúde que requerem abordagem ampliada e contextualizada e da organização dos serviços em rede motivou a revisita ao conceito de trabalho em equipe, à tipologia equipe-integração e agrupamento e aos seus atributos. O efetivo trabalho em equipe se constitui como expressão, por um lado, da articulação das ações das diversas áreas mediante o reconhecimento da sua interdependência e, por outro, da complementaridade indispensável entre agir instrumental e agir comunicativo. Destaca-se que o trabalho em equipe também é expressão da divisão social do trabalho e da transformação de diferenças técnicas em desigual valor social dos trabalhos especializados das diversas profissões e, portanto, dos seus agentes. As contradições presentes nos processos de trabalho, na sua consubstancialidade às necessidades de saúde, podem se limitar a reiterar os modelos dominantes de atenção à saúde ou buscar sua superação por meio de mediações reflexivas e dialógicas dos trabalhadores das equipes entre si e destes com usuários, famílias e população. Por fim, trabalho em equipe constitui uma das formas de trabalho interprofissional com práticas colaborativas, e essa colaboração pode se dar na equipe ou no trabalho em rede com usuários e comunidade.
O objetivo foi buscar as relações entre conceitos caros à educação, tomando por base a interseção entre os campos profissionais da educação, da comunicação e da gestão voltados para a saúde pública. Para tornar possíveis tais sínteses, investe-se na criação do conceito de ‘vida de escola’, por meio de documentos e atividades no âmbito da rede de escolas de saúde pública brasileira, em que essa expressão teria surgido, à espera de definições e vizinhanças adequadas. Por meio desse conceituário, discutem-se alguns dos aspectos e mediações mais fundamentais às concepções modernas de educação e ao papel das escolas de saúde em nosso país.
Este ensaio teve por objetivo analisar como ideologias e políticas públicas influenciam no currículo dos cursos de graduação em saúde. Discute-se a tecnificação do ensino superior, em que os cursos de graduação em saúde apresentam uma lógica especializada, fragmentada e produtivista do cuidado em saúde, e cujos currículos permitem a reprodução acrítica da visão de mundo hegemônica. Nesse caminho, constroem-se as identidades profissionais de sujeitos cujas representações sociais estão influenciadas pelo sistema de valores privados com ideias e prescrições que penetram na subjetividade dos educandos e educadores. Entretanto, na perspectiva dialética do processo educativo, a dominação não suprime a possibilidade de resistência, por isso é que se busca analisar alguns espaços de lutas contraideológicas, assim como discutir os desafios na construção de currículos que valorizem o diálogo sobre a realidade histórica de desigualdade no país e estimule a tomada de consciência crítica para a transformação social. Essa perspectiva permite a construção de um ambiente político mais plural e dinâmico em que se perceba a universidade como espaço de formação humana e cidadã abrangente, comprometida e coerente com o Sistema Único de Saúde.