e-ISSN: 1981-7746
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O Programa de Saúde da Família (PSF) tem por intenção - e mérito - mudar o foco da atenção à saúde centrada no médico e na cura das doenças, para uma atenção centrada na promoção da saúde e prevenção de doenças por meio de uma equipe multidisciplinar. Para atingir esse objetivo, tem na prática de trabalho da visita domiciliar um dos instrumentos fundamentais para o entendimento da totalidade dos condicionantes que afetam a vida do cidadão. Neste artigo, discutem-se os conceitos de visita domiciliar com que operam as três principais categorias de trabalhadores do PSF - médicos, enfermeiros e agentes comunitários - , assim como sua relação com a formação no curso básico. A metodologia se baseia na técnica do discurso do sujeito coletivo a partir das entrevistas aplicadas. Concluímos que a falta de uniformidade sobre o conceito de visita domiciliar pode interferir na proposta de mudança do modelo de atenção à saúde. O artigo tece ainda considerações sobre as distintas concepções de visita domiciliar e sua relação com a organização do trabalho no interior das equipes.
Nas primeiras décadas do século XX, no Brasil, uma evidência se impõe: a proliferação de discursos médicos tematizando as relações da medicina com a educação. O artigo examina discursos médicos que se voltam para a educação, seus múltiplos temas, especialmente dirigidos a examinar os espaços educativos e os escolares, e que destacam que a medicina social preventiva era inconcebível sem a educação. E, inversamente, que a educação era inconcebível sem a incorporação dos avanços da ciência, representada pela medicina. De uma medicina anatômica a uma medicina fisiológica, demonstra como se deslocam a discussão e a missão da medicina, pondo em relevo a educação e o pedagógico propriamente dito. No âmbito do processo de produção de novos saberes e poderes, vê-se instaurado o lugar autorizado do médico para orientar os pedagogos e dotar a educação de teorias e práticas científicas. O olhar questionador dos médicos sobre a escola e os procedimentos de exames e testes, como demonstrações do alcance da ciência, reafirmam a precariedade da pedagogia e a proeminência da medicina para cuidar e educar crianças e jovens na escola.
São escassos os estudos sobre os auxiliares de enfermagem, mesmo nas equipes de saúde da família. Este artigo se baseia em estudo que procurou identificar o perfil dos auxiliares de enfermagem do Programa de Saúde da Família (PSF) na Região Metropolitana de São Paulo, o grau de satisfação com o trabalho, sugestões para melhorar o PSF e expectativas quanto ao futuro profissional. Em 2004, o Departamento de Atenção Primária à Saúde e Programa de Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde da Cidade de São Paulo, aplicou um questionário entre os integrantes das equipes implantadas no município. A análise das respostas de 901 auxiliares de enfermagem contou com o apoio da Unesco. Os principais resultados apresentados neste artigo são: predominância de mulheres, jovens, nível médio de escolarização; capacitação inicial para o PSF, baixa proporção de profissionais com nível técnico. As relações e o processo de trabalho constituem motivos de maior satisfação e as condições de trabalho são pouco satisfatórias. Razões mais citadas para a escolha da profissão, solidariedade e cuidado com o 'próximo'; para a inserção no PSF, nova alternativa no mercado de trabalho e reconhecimento da sociedade. A maioria pretende continuar sua formação, com graduação em Enfermagem e especialização em Saúde Pública ou Saúde da Família².
A relação entre condições de trabalho e saúde constitui o objeto deste artigo. O crescente grau de intensidade imposto ao trabalho contemporâneo provoca sérios danos à saúde dos trabalhadores. O artigo acresce ao estudo a ótica da imaterialidade, que fornece base para a hipótese de que a transição para atividades imateriais intensificadas está criando um perfil próprio de problemas de saúde para os trabalhadores. A análise empírica é realizada com o auxílio de dados provenientes de levantamento efetuado junto a 825 trabalhadores assalariados do Distrito Federal, Brasil. A análise das informações conduz à conclusão de que existem dois perfis diferenciados de problemas de saúde: o primeiro exemplificado pelas respostas dos trabalhadores da construção civil, protótipo do trabalho material; o segundo pelas respostas dos trabalhadores de telefonia, um ramo de atividades imateriais recentemente privatizado no Brasil e submetido ao rigor da competição internacional. Se a intensificação do trabalho material atinge primordialmente o físico do trabalhador, como nos casos dos inúmeros acidentes de trabalho, a intensificação nas atividades imateriais também conduz a problemas de saúde, mas com um perfil diferenciado, centrado mais em aspectos cognitivos, emotivos, relacionais e sociais da pessoa do trabalhador e do grupo a que pertence.
O presente trabalho objetivou investigar a adoção da noção de competências na organização curricular do Curso Técnico de Laboratório em Biodiagnóstico em Saúde, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A pesquisa enfocou a viabilidade da ressignificação desse modelo a partir da adoção da matriz crítico-emancipatória proposta por Deluiz, Ramos e Kuenzer. A pesquisa, de natureza qualitativa, foi realizada por meio de entrevistas com professores da instituição. Os resultados apontaram que a adoção do modelo de competências não se deu por opção pedagógica, mas por imposição legal das instâncias normativas. A identificação, definição e construção de competências que orientaram a organização curricular foram efetuadas através da perspectiva totalizante, ao buscar contemplar as diversas dimensões do conhecimento. A operacionalização desse modelo e o desenvolvimento da dimensão subjetiva das competências mostraram-se o maior desafio enfrentado pelos docentes.
Este ensaio reflete sobre o modo como o método Paidéia lida com a relação entre a constituição de sujeitos e o mundo da vida. Apresenta alguns núcleos temáticos utilizados para analisar essa relação em situações concretas. Discute critérios para avaliar a noção de desenvolvimento político ou institucional. Comenta implicações da adoção desta metodologia no campo da saúde, especificamente para a prática da clínica ou da saúde pública.
O artigo procura traçar um quadro panorâmico de alguns momentos da história brasileira para tentar encontrar as determinações que fizeram com que a intersubjetividade e a 'eticidade' mergulhassem num padrão deletério e nele ficassem amarradas. Busca assim explicar a dificuldade quase crônica que a elite política brasileira tem de governar de modo republicano, ou seja, fazendo com que o interesse público prevaleça democraticamente sobre os interesses privados, sejam esses interesses os do dinheiro, do voto ou das corporações. Sem virtude pública constituída e sedimentada na sociedade e na cultura política, o Brasil cresceu com dificuldades para se aprumar em termos democráticos e republicanos. Mas é uma comunidade que se reconhece como tal, que compartilha uma cultura rica e expressiva, que bem ou mal tem um sistema político e de governo.
Este artigo tem por fim esclarecer alguns pontos significativos para a compreensão da relação público-privado na educação e no ensino. Para tanto, buscou-se no ordenamento jurídico atual - sem deixar de referir-se ao do passado - compreender como tal relação se coloca. Daí o entendimento do significado da educação como serviço público e da necessidade das instituições privadas terem a autorização do poder público para seu funcionamento. O estudo pretendeu criar, tanto quanto possível, um espaço para comparação com conceitos iguais ou semelhantes na área da saúde.
Este texto se propõe a contribuir para a discussão acerca da formação de profissionais de saúde segundo os objetivos da Reforma Psiquiátrica. Para tanto, apresenta o caminho percorrido no Brasil desde o surgimento dos primeiros movimentos da Reforma no País, a construção do novo modelo assistencial vigente, alternativo ao modelo hospitalocêntrico, assim como a experiência do Curso de Qualificação na Atenção Diária em Saúde Mental (CBAD), que objetiva a formação de cuidadores em saúde mental. Discute também possíveis estratégias e propostas que garantam uma formação articulada com a prática, refletindo-se no cuidado multidisciplinar diferenciado e no alcance da maior autonomia possível da clientela atendida.
O trabalho, elaborado como ensaio, aborda problemas decorrentes das assimetrias entre as concepções e as práticas das relações entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro. As hipóteses apresentadas sugerem que a preservação de arranjos político-institucionais e financeiros de suporte público aos serviços privados e empresas de planos de saúde compete com a perspectiva de implementação do direito universal à saúde. O argumento de que a rede privada de estabelecimentos e o empresariamento de esquemas assistenciais desoneram o SUS e, portanto, induzem ao uso eficiente dos recursos públicos para atender os que "não podem pagar"é problematizado. Considera-se, à luz de informações sobre os subsídios fiscais e gastos públicos diretos envolvidos com o financiamento dos planos privados de saúde, que a defesa de um sistema público de saúde para os pobres contrapõe-se e inviabiliza o SUS proposto pela Constituição de 1988.
Socióloga e pesquisadora do GEDISST (Groupe d'Etudes sur la Division Sociale et Sexuelle du Travail) no CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique), na França, Helena Hirata tem se dedicado nos últimos anos à análise dos efeitos do processo social de mundialização nos sistemas de produção, na organização do trabalho e nas relações de trabalho. Neste sentido, temas candentes para a sociedade brasileira e a produção acadêmica nacional têm se destacado em sua produção mais recente, a exemplo da investigação sobre a intensificação da vulnerabilidade das relações de trabalho, a polarização entre trabalho produtivo e trabalho improdutivo, as relações entre desemprego e subemprego e a reorganização produtiva e organizacional. Este conjunto de temas, caros à sociologia do trabalho, são revisitados sob a perspectiva dos estudos de gênero e da problematização das relações de gênero. Nesta entrevista, ela discorre sobre a sexualização dos objetos da sociologia do trabalho, as relações de poder, a divisão social de trabalho e as relações de gênero no mundo ocidental, além de tecer considerações acerca do lugar do trabalho na construção da identidade de gênero feminina.