e-ISSN: 1981-7746
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A Trabalho, Educação e Saúde (TES) publica contribuições originais sobre os campos da educação e da saúde, discutindo-os sob a ótica da organização do trabalho contemporâneo, de uma perspectiva crítica e interdisciplinar. Para submeter um texto, consultar a Política Editorial e as Instruções aos Autores.
Esta nota de conjuntura tem como objetivo registrar historicamente o contexto de proposição da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 709, primeira ação no âmbito do Supremo Tribunal Federal protagonizada por uma organização indígena, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, na conjuntura da pandemia da covid-19. Apresentamos neste texto a mobilização de grupos de pesquisadores da área de saúde indígena articulados com lideranças e movimentos indígenas que denunciaram a vulnerabilidade e os graves impactos da covid-19 para os povos indígenas e as fragilidades da resposta do governo federal. Destacamos a atuação dos pesquisadores do Grupo Temático de Saúde Indígena da Associação Brasileira de Saúde Coletiva e da Fundação Oswaldo Cruz, que constituíram um grupo de especialistas para apoiar as decisões do ministro Luís Roberto Barroso no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 709. Sintetizamos o vasto registro processual da proposição desta arguição de descumprimento, a qual apresenta um conjunto de evidências sobre as fragilidades do planejamento e da resposta governamental durante o período crítico da pandemia. Em um contexto de crise sanitária e violação de direitos, o movimento indígena valorizou a ciência e foi capaz de potencializar a incidência dos pesquisadores para sua resistência e luta pelo direito à saúde.
Foto: Alex Pazuello
O contexto do Sistema Único de Saúde é atravessado por diversas iniciativas formadoras direcionadas aos profissionais de saúde, aos gestores e à sociedade civil organizada, dentre as quais destacam-se os processos relacionados à temática do monitoramento e avaliação em saúde. Contudo, pouco se observam iniciativas nessa área voltadas para o controle social do referido sistema. O objetivo deste artigo é analisar a trajetória formativa e pedagógica do curso de formação em monitoramento e avaliação para o controle social no Sistema Único de Saúde, de modo a delinear reflexões e apontamentos pertinentes a processos formativos destinados a pessoas conselheiras e apoiadoras técnicas atuantes nos espaços de participação social em saúde. Trata-se de um artigo com orientação informativa, referenciada, dialogada e crítica, subdividido em três seções. Na primeira, recupera-se o referencial teórico a respeito da relevância de processos formativos na área de monitoramento e avaliação em saúde; na segunda, apresentam-se as bases pedagógicas e metodológicas do curso; na terceira, são sistematizados desafios e potencialidades da vivência do processo formativo dialogados à luz da literatura técnico-científica da área.
Foto: Raul Santana/Fiocruz Imagens
O artigo teve por objetivo apresentar as percepções sobre a resposta à pandemia de covid-19 tendo em vista o trabalho em saúde de profissionais da Estratégia Saúde da Família no município do Rio de Janeiro. Analisaram-se as repercussões da covid-19 nas condições e relações de trabalho, assim como a percepção sobre o correspondente processo de vacinação no município. Dezesseis entrevistas semiestruturadas foram conduzidas com profissionais que compõem a equipe mínima da Estratégia em duas unidades de clínica da família de duas áreas programáticas de saúde. O estudo visa colaborar com a produção de conhecimento para o enfrentamento de emergências em saúde pública na Atenção Primária à Saúde, com a proposição de ações e políticas do município nesse nível de atenção, além de contribuir para maior compreensão do processo de vacinação no Sistema Único de Saúde.
Foto: Ministério da Saúde/ flickr
O artigo tem como tema as interpretações de pesquisadoras e pesquisadores a respeito dos sentidos e legados das Jornadas de 2013 no Brasil. Apresentam-se as temáticas destacadas por esses sujeitos e as suas experiências de pesquisa com 2013, além dos resultados da pesquisa “Dimensões educacionais das Jornadas de 2013”. Foram feitas 18 entrevistas semiestruturadas, de forma presencial, no primeiro semestre de 2023. As entrevistas se justificam pela escassez de produção acadêmica sobre as dimensões educacionais das Jornadas. Como resultado, destacam-se os interesses acadêmicos em assuntos relacionados com o evento em questão, como movimentos sociais, ações coletivas e participação política das juventudes. As interpretações das e dos depoentes convergem no que se refere às causas e à dinâmica de 2013, considerado um complexo fenômeno histórico, causado pelos limites das políticas do lulismo e a insatisfação com a democracia representativa. No que tange aos legados, há divergência: alguns consideram-nos mais positivos (promovem renovação do agir político); outros, mais negativos (favorecem a ascensão da extrema direita). Como conclusão, referenda-se a importância de tratar desse tema como momento ímpar de subjetivação política de uma unidade de geração juvenil progressista nos anos 2010, assim como o legado das pautas relativas ao direito à cidade.
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Este estudo teve como objetivo analisar as práticas de cuidado em saúde desenvolvidas por enfermeiras de Atenção Primária à Saúde em contextos rurais na Bahia na pandemia da covid-19. Realizou-se um estudo qualitativo com 22 dessas profissionais, mediante entrevistas semiestruturadas. A análise das práticas abrangeu quatro dimensões: gestão, atenção à saúde, ensino e participação/cidadania. Os resultados indicaram que as práticas de cuidado no contexto rural sofreram uma série de paradoxos, incluindo a interrupção/alteração nos âmbitos de gestão, atenção à saúde, ensino/pesquisa e controle social, além da exacerbação de barreiras na consecução de acesso, integralidade, longitudinalidade e coordenação do cuidado. De maneira positiva, as ações de vigilância ganharam mais centralidade, pois serviram para orientar a aplicação de recursos e viabilizar apoio técnico, logístico e operacional para a redução da disseminação viral. A visão panorâmica das práticas das enfermeiras durante a pandemia revelou que apesar de avanços nas dimensões avaliadas, limitações precisam ser superadas visando à sustentabilidade do modelo de Atenção Primária à Saúde, ao reconhecimento e aperfeiçoamento das práticas desenvolvidas por enfermeiras nesse âmbito e a sua necessária valorização.
Foto: Ministério da Saúde/ flickr
Este artigo analisa impactos da implementação de reformas neoliberais e dispositivos de gerencialismo com organizações sociais privadas atuando na gestão do setor público no processo de trabalho, formação profissional e subjetividade de agentes comunitários de saúde. O estudo problematiza os princípios de produtivismo, meritocracia e performatividade na ideologia do gerencialismo aplicados à saúde. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com abordagem da investigação-ação-participativa. Realizaram-se entrevistas individuais com dez agentes comunitários de saúde de uma unidade de saúde da família no município do Rio de Janeiro. Os dados foram interpretados com a técnica da análise de conteúdo, e organizou-se a discussão dos resultados em cinco categorias: Desafios no contexto neoliberal; A questão da formação profissional; Condições de trabalho; Subjetividade no contexto de trabalho; e Práticas políticas de acomodação e resistência. Os resultados mostraram as diversas formas de contestação às políticas neoliberais na organização do trabalho. Na tensão e contradição no cotidiano de trabalho, os sujeitos se fazem e se refazem, acomodam-se, adaptam-se ou resistem, sentem prazer e sofrem. Conclui-se que é preciso reforçar espaços de escuta, acolhimento e diálogo, promovendo uma formação crítica dos agentes comunitários de saúde e fortalecendo seu papel articulador, educador e mobilizador.
Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
O artigo descreve a experiência do projeto “Capacitação de Conselheiros Indígenas de Saúde do DSEI/MAO com uso das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação)”, realizado em 19 polos-base do Distrito Sanitário Especial Indígena Manaus, no Amazonas, ao longo de 2021. O seu objetivo foi desenvolver uma rede de formação de conselheiros locais de saúde indígena com base na perspectiva de rompimento com as lógicas ‘bancárias’ em direção a práticas libertadoras para a ação dos conselheiros e promoção de sua participação nas políticas públicas de saúde indígena. As atividades combinaram diferentes estratégias pedagógicas e mídias de interação, tais como 22 oficinas presenciais, que formaram 255 conselheiros e um curso na modalidade de Educação a Distância, que formou 268 conselheiros, totalizando 523 conselheiros; e a produção de material didático específico para o projeto sob a forma de três cartilhas. O conteúdo da formação incluiu, além de noções básicas de controle social, informações sobre a pandemia de covid-19, a construção de abordagens para ação do controle social no contexto da emergência sanitária e escutas sobre o enfrentamento da pandemia nos territórios e aldeias.
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Este artigo apresenta resultados de uma etnografia documental, cujo objeto de pesquisa foi a profissionalização da enfermagem no Brasil. Com base em documentos primários, datados entre 1925 e 1931, objetivou-se analisar e discutir as formas pelas quais os discursos construídos acerca da nova profissão e da nova profissional sustentaram-se com importante influência do movimento eugenista. Esses discursos, que constituíram violências estruturais, produzidos de um lugar embranquecido de poder, buscavam construir a imagem socialmente aceita de uma profissão que rompera com seus vínculos coloniais do cuidado, praticado no país majoritariamente por mulheres negras. Desde a perspectiva antropológica e interseccional, procurou-se contribuir para contranarrativas capazes de questionar aquela hegemônica que perpassa a construção da profissão no país.
Imagem: Freepik
O bolsonarismo é definido como movimento neofascista cuja principal base social é a alta classe média e que, portanto, logrou atrair parte da categoria médica. Ele comporta diversos elementos ideológicos que se refletiram na política de saúde entre 2019 e 2022, entre eles: o antipetismo/anticomunismo, o neoliberalismo, o conservadorismo moral, a homofobia, o fundamentalismo cristão, o negacionismo científico, o antifeminismo e a misoginia. Buscou- e analisar os reflexos do bolsonarismo sobre as políticas relacionadas à saúde da mulher e aos direitos sexuais e reprodutivos nesse período. Por intermédio de métodos de procedimento histórico e monográfico, com uma abordagem qualitativa, de caráter descritivo e exploratório, utilizaram-se a documentação indireta e a observação direta intensiva para a coleta de dados, a condensação de significado e a hermenêuticadialética para sua análise. O conservadorismo moral e o fundamentalismo religioso associados ao antifeminismo e à misoginia marcaram as políticas voltadas à saúde da mulher e aos direitos sexuais e reprodutivos. Analisaram-se o combate do Conselho Federal de Medicina ao conceito de violência obstétrica, as medidas para obstaculizar o acesso ao aborto legal, as dificuldades para a reprodução assistida e o desmonte da Rede Cegonha, revelando a associação entre a corporação médica e o governo Bolsonaro.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Este artigo pretende problematizar a questão da invisibilidade de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT) e suas consequências no acesso e nas demandas em saúde dessas pessoas, tendo como pressuposto as necessidades e os problemas percebidos no movimento social que compõe os principais grupos que formam o Fórum Diversidade da Grande Florianópolis. Trata-se de uma investigação qualitativa que utilizou observação participante e entrevista. Foram realizadas nove entrevistas com lideranças do movimento LGBT da cidade de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Como resultado, observou-se que as oportunidades de acesso da população ficaram circunscritas por práticas profissionais excludentes e reprodutoras de violências, baseadas em atos de discriminação social. Muitas vezes, a exposição de sexualidades e identidades de gênero não-heteronormativas podiam agravar a vulnerabilidade das pessoas. O Sistema Único de Saúde mostrou-se atravessado por constantes práticas heteronormativas que desconsideravam as vivências das diferentes sexualidades existentes entre as pessoas. Devido a isso, a população LGBT mostrou-se resistente a buscar os serviços de saúde, por considerar esses espaços como lugares em que sofrem preconceito e discriminação.
Foto: Alexander Grey/Pexels
O objetivo deste estudo foi compreender a construção e a atuação dos planos de ação para usar a ferramenta Acesso Mais Seguro na Atenção Primária de Porto Alegre. Para tanto, realizou-se um estudo qualitativo e descritivo-exploratório, com grupos focais, aplicação de questionários sociodemográficos e exame dos planos de ação. Participaram do estudo 33 profissionais de oito unidades de saúde. A análise dos dados das discussões focais chegou a três categorias: avaliação do risco de violência; funcionamento do Acesso Mais Seguro; e atuação do grupo de tomada de decisão. Os resultados demonstram que a ferramenta auxilia as equipes de saúde em momentos de risco de violência. Porém, são necessárias melhorias no processo de notificações e na comunicação entre os profissionais, os setores e a comunidade, aprimorando a utilização dos planos de ação. Assim, para compreender o verdadeiro significado do Programa Acesso Mais Seguro, é preciso interpretá-lo no contexto de trabalho, caracterizado pela precarização das condições laborais, que leva o poder público a terceirizar a solução do problema da violência contra os profissionais de saúde.
Foto: Freepik
Descreve-se no artigo o processo de construção de um mapa interativo georreferenciado que incorpora a questão da coexistência de diferentes tipos de vínculos em uma mesma unidade básica de saúde do município de Itajaí, em Santa Catarina. O período de realização da pesquisa foi de janeiro a junho de 2023. Argumenta-se que essa questão tem aberto cenários de tensão nas relações de trabalho e, com efeito, na produção do cuidado resolutivo e continuado. O mapa abre frentes úteis para o processo organizacional da rede da estratégia do município e para a análise de políticas públicas, de modo a se refletir sobre o que é apresentado para a força de trabalho. Pode ser também um instrumento de avaliação para entidades de controle social e para a sociedade em geral. O texto procura assumir caráter didático ao oportunizar aos leitores acesso a informações suficientes para que possam se apropriar das ferramentas apresentadas, possibilitando-lhes assim a construção de seus próprios mapas
O estudo, realizado de maio de 2022 a abril de 2023, teve o objetivo de discutir o ensino da integralidade no Programa de Residência Multiprofissional em Estratégia Saúde da Família, com base na experiência de residentes de Belém, no Pará. A pesquisa adotou recorte transversal com abordagem quantiqualitativa e coleta de dados realizada por um questionário semiestruturado com cinco eixos de interesse: dados sociodemográficos, conhecimentos e saberes prévios sobre o princípio da integralidade, inclusão da integralidade nas atividades teóricas do programa, articulação dos conhecimentos teóricos com a prática profissional e aplicabilidade da integralidade nas ações de saúde realizadas pelas equipes profissionais. Participaram 29 residentes de enfermagem, fisioterapia, odontologia e terapia ocupacional regularmente matriculados no programa. Os achados revelaram que os participantes reconhecem a importância da integralidade no atendimento das necessidades em saúde dos usuários, apontando que a abordagem integral deve ser validada e legitimada como parte indissociável do cuidado. Mas o aprendizado da integralidade ainda constitui um desafio conceitual e metodológico, realidade que precisa ser avaliada no planejamento e na escolha das estratégias para o ensino em saúde. Conclui-se que o ensino dos residentes deve priorizar a abordagem desse princípio com mais profundidade, para favorecer um aprendizado mais significativo e potente.
Foto: senivpetro/Freepik
Os profissionais da saúde afiançam que não se sentem seguros para atender as demandas relacionadas à violência sexual. Nesse âmbito, desponta a Educação Permanente em Saúde, política do Sistema Único de Saúde que cumpre os requisitos de desenvolvimento permanente de habilidades e competências profissionais. Assim, este estudo objetivou analisar a compreensão dos trabalhadores acerca dos processos de trabalho e sua articulação com a Educação Permanente em Saúde para a qualificação na Rede de Atenção às Vítimas de Violência Sexual, na gestão e na Área Lilás do Hospital da Mulher Nise da Silveira, de Alagoas. Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo, exploratório e de abordagem qualitativa. Promoveram-se três oficinas integrando dois grupos de pesquisa. Os inquiridos compreendem os impactos que a Educação Permanente em Saúde pode reverberar na atenção às vítimas de violência sexual. Isso acontece porque não se trata de um processo engessado de formação, mas ancora-se na aprendizagem que os provoca a problematizar tanto as suas condutas laborais quanto os processos de trabalho em que estão inseridos, valorizando a experiência que cada um carrega na intenção de (re)pensar novos moldes de cuidado e de reduzir os ruídos de comunicação diante do fazer dialógico.
Foto: Imagem de freepik
O presente artigo teve por objetivo principal explicitar os fundamentos teóricometodológicos de uma experiência pedagógica realizada na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, no campo das ‘humanidades médicas’. Trata-se da disciplina ‘Arte e saúde’, ministrada desde 2016, na qual se procurou desenvolver uma estratégia de ensino que explicita e discute, na prática médica, questões relacionadas a corporeidade, gênero e cuidado à saúde. Nessa perspectiva, procurou-se explorar a potencialidade transgressora da arte como uma forma de problematizar um conjunto de pressupostos, princípios e valores subjacentes às relações sociais que, usualmente, são estabelecidas nos encontros entre terapeutas e pacientes. Neste artigo, discutimos apenas sobre um módulo dessa disciplina: aquele em que usamos exemplos de performances artísticas para refletir a dimensão corporal da experiência humana (corporeidade) e o mundo da vida cotidiana.
Foto: Freepik
O objetivo deste trabalho foi analisar a trajetória das legislações relativas ao ensino superior no Brasil e suas contribuições para o processo de privatização do ensino, além de descrever os principais grupos empresariais no ramo da educação superior no país. Para isso, realizou-se um estudo exploratório de análise documental das legislações e documentos disponíveis on-line, publicados entre 1961 e 2023. Desde a década de 1960, editou-se um conjunto de 29 atos normativos (leis, projetos de leis, decretos, portarias e medidas provisórias) referentes à educação. Ao longo dos anos, todos os governos brasileiros implementaram atos que favoreceram o processo de privatização e o surgimento de grandes conglomerados econômicos de ensino. A intensa privatização do ensino superior se relaciona intimamente com a trajetória dos instrumentos normativos editados por diferentes governos. As legislações moldaram o sistema educacional do país e permitiram a flexibilização dos processos de criação e expansão de instituições, cursos e vagas. Por conseguinte, surgiram grandes grupos empresariais no ramo da educação, detentores de crescentes capitais financeiros que atuam em todas as áreas de formação e, em alguns casos, até se especializando na educação em saúde.
Foto: wayhomestudio/Freepik
O estudo objetivou analisar o processo de trabalho do agente comunitário de saúde com a população idosa, dando especial ênfase à visita domiciliar no município de Foz do Iguaçu, no Paraná. Delineou-se um estudo transversal, de cunho analítico-descritivo, com abordagem mista. Participaram 114 agentes comunitários de saúde, com predominância
do sexo feminino, média de idade de 43,2 (DP 10,76) anos, cor de pele branca, estado civil casada, religião católica e com ensino médio completo como maior grau de escolaridade. Surgiram três categorias discursivas que descrevem os desafios enfrentados por esses profissionais no trabalho com idosos: o ‘território epidemiológico’ reúne as demandas
sanitárias dos idosos acompanhados pelas agentes; a ‘abordagem clínica’ discute aspectos do modelo assistencial da estratégia saúde da família; e a ‘vida em comunidade’ retoma a questão das relações sociais entre o idoso e o meio. O estudo permitiu constatar que a visita domiciliar é a principal atividade desenvolvida pelas agentes comunitárias de saúde com a população idosa. Achados do estudo oferecem aportes à gestão sanitária local, por meio da discussão dos desafios enfrentados por um segmento significativo de profissionais da saúde alocados na Atenção Primária à Saúde.
Foto: Agência Brasília/ Flickr
Buscou-se neste estudo avaliar a satisfação e a sobrecarga de profissionais de saúde mental em um município de médio porte em São Paulo. Realizou-se um estudo quantiqualitativo, com a Escala de Avaliação da Satisfação de Profissionais em Serviços de Saúde Mental e a Escala de Avaliação da Sobrecarga de Profissionais em Serviços de Saúde Mental para dados quantitativos. Além disso, dados qualitativos foram obtidos por meio da análise de atas das reuniões do Comitê Gestor da Pesquisa com o suporte do software NVivo Release 1.3. Os resultados revelaram que os profissionais de saúde mental experimentaram menor sobrecarga nos serviços de sua área, porém mostraram-se insatisfeitos com o trabalho. Embora a satisfação tenha sido relativamente mais alta nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas e nos Centros de Atenção Psicossocial II em comparação com o ambulatório, essas diferenças não foram estatisticamente significativas. Em suma, os achados indicam que maior insatisfação e menor sobrecarga não são eventos independentes e corroboram outros estudos. A triangulação de fontes de dados contribuiu para uma compreensão mais ampla do tema, destacando-se a importância de se considerarem a satisfação e a sobrecarga dos profissionais na melhoria do cuidado em saúde mental.
Foto: AartlistDesign/Pixabay
O estudo aqui apresentado teve por objetivo avaliar a percepção da qualidade do processo de aprendizagem no ambiente virtual dos estudantes do Programa Saúde com Agente. Tratou-se de um estudo transversal, realizado em 2022, com 9.145 estudantes dos cursos de Técnico em Agente Comunitário de Saúde e Técnico em Vigilância em Saúde com Ênfase no Combate às Endemias. Informações sobre a qualidade do processo de aprendizagem foram obtidas por meio do questionário Constructivist On-Line Learning Environment Survey, que consiste em 24 questões agrupadas em seis dimensões: relevância, reflexão crítica, interação, apoio dos tutores, apoio dos colegas e compreensão. Avaliaram-se o perfil sociodemográfico dos participantes e as principais formas de acesso ao curso e acompanhamento. Realizou-se análise descritiva; para análise de associação, utilizou-se o teste qui-quadrado ou exato de Fisher. A maioria dos participantes é do sexo feminino, faixa etária de 40 a 49 anos, da região Nordeste; realiza as atividades em casa e usa o celular/smartphone. Ao se considerarem as seis dimensões avaliadas, relevância, interação e apoio dos colegas obtiveram diferenças estatisticamente significativas entre os estudantes dos cursos de Técnico em Agente Comunitário de Saúde e Técnico em Vigilância em Saúde com Ênfase no Combate às Endemias.
Foto: rawpixel.com/Freepik
Objetivou-se avaliar a segurança dos profissionais de saúde que atuaram no combate à pandemia de covid-19 em 2020 nos serviços de saúde brasileiros. Realizou-se inquérito on line, conduzido entre junho e setembro de 2020, com profissionais de saúde de instituições públicas e privadas brasileiras, com base no questionário Health workers exposure risk assessment and management in the context of COVID-19 virus, da Organização Mundial de Saúde, sendo analisados 2.832 registros. Raça/cor e categoria profissional foram variáveis relacionadas ao aumento de casos de covid-19 dentre os profissionais. Os que se autodeclararam não brancos, técnicos e auxiliares de enfermagem tiveram chance maior de resultado positivo, indicando maior suscetibilidade à infecção relacionada ao nível socioeconômico e/ou categoria profissional e papel desempenhado no cuidado ao paciente. As variáveis estrutura das unidades de saúde, localização, teste e disponibilidade de equipamentos de proteção individual relacionaram-se ao grau de risco de contrair a doença. Ressalta-se a importância da garantia de insumos e equipamentos aos profissionais de saúde, sobretudo em um contexto pandêmico e entre aqueles com baixo nível socioeconômico que atuam na linha de frente. Riscos em situações de emergência e escassez devem ser prospectivamente monitorados, ajustando-se às iniciativas no tocante à segurança do paciente.
Foto: wirestock/Freepik
A automedicação expõe os indivíduos a riscos como reações adversas, intoxicações, interações medicamentosas, falhas terapêuticas e erros de medicação. Na pandemia de Covid-19, houve aumento de compra e consumo de produtos farmacêuticos pelos brasileiros. O presente estudo teve como objetivo estimar a prevalência e os fatores associados à automedicação em estudantes de um centro universitário na região do Campo das Vertentes, Minas Gerais, bem como avaliar a incidência durante a pandemia de Covid-19. O estudo teve delineamento transversal e quantitativo, com 248 estudantes de um centro universitário em 2021. Os achados mostraram que 67,3% dos participantes relataram realizar a automedicação; 28,7% apontaram aumento da automedicação durante a pandemia; e 30,9% indicaram o início nesse período. Houve diferença significativa sobre: considerar-se capaz de se automedicar, ter costume de indicar medicamentos para outras pessoas e consumi-los por indicação de outros. Para aqueles que aumentaram a prática de automedicação na pandemia, houve associação com o hábito de indicar medicamentos para outras pessoas. Já para quem iniciou essa prática no período pandêmico, a capacidade de automedicação esteve associada. Os resultados abrem caminhos para medidas educativas sobre o uso irracional dos medicamentos pelos estudantes do ensino superior, independentemente da área de formação.
Foto: Jorge Franganillo/Pixabay
A Educação Alimentar e Nutricional é o campo de conhecimento que leva em conta as representações sobre o comer e a comida, os conhecimentos e os valores da alimentação, com vistas à autonomia de escolha dos sujeitos em questões relacionadas à alimentação e à nutrição. Este texto é resultado de uma pesquisa teórica com o objetivo de identificar a trajetória da Educação Alimentar e Nutricional no Brasil, que a delineou como campo de conhecimento. As políticas atuais desse campo de conhecimento são fruto da superação de um passado em que predominavam abordagens educativas voltadas para a alimentação que ocorriam de forma descontextualizada, normativa e estritamente biológica. Essa trajetória envolve disputas em sua teoria e prática que evidenciam que a resolução do problema da alimentação no Brasil é perpassada por uma profunda reestruturação econômica e social. Destacamos a necessidade de que as práticas de Educação Alimentar e Nutricional sejam pautadas pela perspectiva crítica e emancipatória de educação.
Foto: Freepik
A distribuição de médicos no Brasil é marcada por desigualdades, prejudicando o acesso integral e universal à saúde, base do Sistema Único de Saúde. O Programa Mais Médicos atingiu o auge do provimento emergencial em 2016, com 18.088 médicos em 4.509 municípios, uma das maiores intervenções desse tipo no mundo. Realizou-se uma revisão sistemática para reunir evidências dos efeitos do Programa na Atenção Primária à Saúde e impactos na saúde da população atendida. Extraíram-se 570 estudos, e a seleção final incluiu 32 artigos. Quanto aos efeitos do Programa, verificaram-se rápida expansão na cobertura e melhoria na integralidade e humanização da Atenção Primária à Saúde e impacto significativo nas internações por condições sensíveis a essa atenção, reduzindo aproximadamente 23 mil internações em três anos e poupando R$ 30 milhões para o Sistema Único de Saúde. Identificaram-se também pontos prejudiciais ao impacto potencial do Programa: desvios na focalização, mudanças nos critérios de prioridade e substituição indevida de médicos já contratados por outros do Programa Mais Médicos, além da ruptura causada pela saída de 8.500 médicos cubanos em novembro de 2018. Estima-se que o relançamento do Programa em 2023, sobretudo com base em evidências já existentes, promoverá a continuidade dos seus progressos.
Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil
A saúde é indicada como uma das justificativas para a existência da educação física como componente curricular escolar. No entanto, ainda prevalece uma visão limitada de saúde, focada especialmente em questões biológicas e comportamentais. Uma resolução de 2018 estabeleceu entrada única nos cursos de educação física, instituindo que não haverá mais a entrada separada para bacharelado e licenciatura, e que os alunos devem escolher uma ou outra habilitação específica somente na segunda metade do curso. O objetivo deste estudo foi analisar as ementas dos novos currículos dos cursos de licenciatura em educação física das universidades públicas da região Sul do Brasil, especificamente em relação à sua aproximação com a temática da saúde coletiva. Trata-se de um estudo descritivo-analítico com análise documental. Foram analisadas 708 ementas de disciplinas de 11 cursos. Três cursos não tinham disciplinas relacionadas à temática saúde coletiva. Identificaram-se 17 disciplinas obrigatórias, sendo 13 ofertadas na etapa comum e quatro na etapa específica da licenciatura. Conclui-se que existem poucas inserções da temática da saúde coletiva nos cursos de licenciatura em educação física, principalmente na etapa específica do curso.
Foto: Ministério da Saúde/ flickr
Matuzza Sankofa é redutora de danos, presidenta do Centro de Convivência “É de Lei”, com sede em São Paulo, capital, pioneiro no Brasil desde 1998 na promoção da redução de riscos e danos, sociais e à saúde, associados à política de drogas. É também coordenadora do projeto Respire, fundadora e presidenta da Casa Chama, que atua com mulheres trans que vivem em situação de rua. Nessa entrevista, Matuzza nos fala sobre a redução de danos na relação com a saúde e como ela conflui para a sua trajetória de vida.
Foto: Acervo EPSJV
Neste texto celebram-se as ideias e o legado do educador Carlos Rodrigues Brandão, falecido, infelizmente, no dia 12 de julho de 2023. Para homenagear Brandão, optouse por tomar como base a obra intitulada O educador: vida e morte, que completou 42 anos e serviu como inspiração ao título deste texto. Por certo, a distância do tempo não apaga o espírito do educador de vocação amorosa e libertária. Brandão era implacável ao tecer críticas às injustiças sociais, ao mesmo tempo que indicava saídas cotidianas para o trabalho educativo de cariz emancipatório. O pensamento de Brandão não feneceu; poético e divertido, permanece vivo e a florescer entre nós. Como na reflexão de Rubem Alves (1983, p. 17): “E o educador, morreu? Educadores são como as velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma estória a ser contada”.
Foto: Igor Sperotto
Resenha crítica da Obra:
FREITAS, Carolina; BARROS, Douglas; DEMIER, Felipe. (Orgs.). Junho e os dez dias que abalaram o Brasil (2013-2023). São Paulo: Usina Editorial, 2023.