e-ISSN: 1981-7746
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Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que analisou a vivência de profissionais na atividade de acolhimento em unidades básicas de saúde. O pressuposto foi o de que a lógica neoliberal está cada vez mais presente em diversos âmbitos sociais, incluindo os serviços públicos de saúde, influenciando as relações de trabalho e sua organização e, consequentemente, podendo dificultar a prática do acolhimento tal qual preconizado pelo Ministério da Saúde. Foram realizadas cinco entrevistas reflexivas com profissionais que praticam o acolhimento em unidades básicas de saúde, submetidas à análise de conteúdo. Os resultados indicam que a contratação formal, a exigência de flexibilidade e a falta de recursos são aspectos indicativos da precarização das condições de trabalho. Somadas à prevalência da concepção de atendimento médico-centrada e à medicalização excessiva, prejudicam a prática do acolhimento de acordo com o Ministério da Saúde. As entrevistadas demonstraram ter consciência dessas contradições presentes no cotidiano de trabalho, mas mostraram-se impotentes para mudar a situação. Tais aspectos configuram a situação de precariedade subjetiva a que esses profissionais estão submetidos e geram desgaste mental que pode resultar em sofrimento e adoecimento.
Esta pesquisa exploratória, de natureza qualitativa, teve como foco a narrativa dos profissionais de Centros de Atenção Psicossocial infantojuvenis. O objetivo foi descrever e analisar as trajetórias de trabalhadores desses centros e suas relações com o processo de inserção e prática nesse campo, bem como compreender como essa trajetória influencia na atuação cotidiana dos profissionais. Utilizou-se um questionário com perguntas abertas e entrevistas narrativas. O universo do estudo compreendeu oito trabalhadores de diferentes categorias profissionais, lotados em dois centros de atenção psicossocial infantojuvenis no município de São Paulo, Brasil, um gerenciado diretamente pela prefeitura e o outro, por uma organização social de saúde. Evidenciou-se que a vida política pouco é citada pelos trabalhadores da organização, enquanto para os profissionais da prefeitura representa um importante sentido do trabalho. Todos os profissionais entrevistados guardam semelhanças entre si, dentre as quais: a assimilação do tratamento ofertado às crianças aos cânones adultos, a passagem por hospitais e consultórios em suas trajetórias e o foco do olhar do profissional dirigido à doença e não ao sujeito do sofrimento. Presos nessas representações, os profissionais vivem competências, habilidades e pensamentos que dão origem à improvisação e à angústia.
Ao longo da história, a Psiquiatria desenvolveu teorias psíquicas e modelos de cura que necessitaram de configurações organizacionais específicas para sua execução. Com os movimentos reformistas e o surgimento do campo da atenção psicossocial, foi necessário repensar os recursos humanos. O objetivo deste trabalho é apresentar a construção da figura do auxiliar em saúde mental no contexto histórico da reforma psiquiátrica brasileira. O estudo foi realizado na perspectiva da História Oral, sobre a política de saúde mental de Quixadá (Ceará), devido às suas contribuições relacionadas à organização do trabalho em centros de atenção psicossocial. Com base em resultados de levantamentos bibliográfico, normativo, documental e entrevistas, apresenta-se, como contribuição, a criação da figura do auxiliar em saúde mental, uma função exercida pelos trabalhadores de nível fundamental e médio. Segundo relatos dos entrevistados, esta função favoreceu a diminuição do estigma em relação ao doente mental; a diminuição interna da hierarquia entre os profissionais; a constituição de todos os trabalhadores em profissionais do cuidado; maior vinculação e satisfação com o trabalho e com os demais trabalhadores.
Objetivou-se investigar como os profissionais de enfermagem compreendem o assédio moral, bem como identificar essas situações vivenciadas pelos profissionais dessa área, suas causas e consequências para a saúde desses trabalhadores. Trata-se de uma pesquisa exploratória, de natureza qualitativa, da qual participaram 15 profissionais de enfermagem atuantes em unidades de saúde da família, da cidade de João Pessoa, na Paraíba. A coleta de dados foi realizada no período de abril a maio de 2013 e ocorreu mediante uma entrevista gravada. Os dados foram analisados por meio da técnica de análise de conteúdo. Da análise do material, emergiram três categorias: Assédio moral, conceito e características na visão dos profissionais de enfermagem; Comportamentos de assédio moral experimentados por profissionais de enfermagem; e Consequências do assédio moral. Conclui-se que o assédio moral é disseminado entre enfermeiros e técnicos de enfermagem, apesar de alguns profissionais discernirem o conceito dessa prática, sendo notória a prevalência do tipo descendente.
Objetivou-se verificar se as percepções da equipe de profissionais dos abrigos para jovens acerca das dificuldades no trabalho estariam relacionadas às deficiências na seleção, capacitação e formação continuada. Foi realizada uma pesquisa qualitativa em dois abrigos localizados na cidade do Rio de Janeiro, entre 2008 a 2010. As 47 entrevistas com profissionais dos abrigos e as observações de campo nas oficinas em grupo foram transcritas. A análise dos dados identificou pontos críticos que podem gerar violências, interferir no manejo das tarefas e agravar os riscos psicossociais, comprometendo a saúde mental dos cuidadores e jovens assistidos. Ao se confrontar seus relatos com as recomendações contidas nas Orientações técnicas para os serviços de acolhimento para crianças e adolescentes, conclui-se que, embora esse documento possibilite mapear as ações dos profissionais e nortear as melhores formas para realizarem a tarefa de acolher, ele precisa ser assimilado e vivenciado para reduzir a distância entre o prescrito e a realidade.
Este artigo trata de um estudo prospectivo e descritivo de abordagem qualitativa que investigou, por meio de grupo focal, as percepções que os trabalhadores de um Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil, o CAPSi, no interior do Rio Grande do Sul, Brasil, têm sobre saúde e saúde mental. O referencial teórico baseia-se na psicodinâmica do trabalho de Christophe Dejours, nas políticas e diretrizes do Ministério da Saúde e nos conceitos de saúde e saúde mental propostos pela Organização Mundial da Saúde. O material foi analisado por codificação temática, com base na abordagem da estrutura. Como principais resultados, destacam-se a capacidade de resolver situações conflitivas e a realização de alguma atividade corporal como estratégias de manutenção da saúde e da saúde mental, bem como a compreensão integrada de saúde entre aspectos físicos, psíquicos e sociais.
Os professores universitários estão expostos a um aumento de tensão no trabalho pela fragmentação da sua atividade e as responsabilidades exigidas, sem que, em muitas situações, tenham as condições necessárias para responder adequadamente. Tal situação pode representar condições estressoras, aumentando o risco de transtornos mentais. Investigou-se a associação entre transtornos mentais comuns e estressores no trabalho entre professores de nove cursos da área da saúde de uma universidade particular em Minas Gerais. A variável dependente foi a presença de transtornos mentais, avaliada pelo Questionário de Saúde Geral 12. Os estressores no trabalho foram avaliados pelo modelo Esforço-Recompensa e Comprometimento excessivo. As demais variáveis foram: sociodemográficas, história ocupacional, comportamentais e referentes à saúde geral. Os dados foram submetidos à análise descritiva, análise bivariada e regressão de Poisson. Participaram 175 professores (80, 0%), e 19, 5% apresentaram transtornos mentais comuns. A prevalência desses transtornos foi maior entre professores com maior esforço no trabalho (RP= 1, 8; IC95%= 1, 01-3, 46) e menor naqueles com maior qualidade de vida no domínio físico (RP= 0, 95, IC95%= 0, 93-0, 97). Conclui-se que há uma prevalência considerável de transtornos mentais comuns entre professores universitários, sendo maior naqueles que se esforçam mais no trabalho e com pior qualidade de vida no domínio físico.
O artigo apresenta diferentes posicionamentos das políticas públicas brasileiras vigentes relacionadas ao uso de álcool e drogas e discute possíveis repercussões que tais divergências podem trazer para a atuação do trabalhador da área de saúde. Trata-se do resultado de pesquisa documental sobre essas políticas, tais como portarias, leis e decretos a partir de 1938 até aquelas vigentes atualmente. Optou-se por elencá-las de forma cronológica, considerando os dois principais posicionamentos políticos: 1. foco na segurança pública e justiça; 2. foco na saúde pública. Constatou-se que neste período houve uma clara tentativa de mudança de paradigma, de forma a abranger a prevenção ao uso e tratamento. No entanto, ainda se verifica nas políticas e, no senso comum, a presença de fortes traços de ideais de um mundo livre das drogas, a partir de conceitos moralistas, intolerantes e autoritários como da guerra às drogas, repressão e redução da oferta. É neste contexto que os profissionais da saúde pública, em especial aqueles que atuam nos centros de atenção psicossocial álcool e drogas, enfrentam o grande desafio e vivenciam efeitos subjetivos no cotidiano de atuação frente a tantas divergências e contradições.
As características ambientais e o modo de organização do trabalho em centros especializados em saúde podem produzir situações de estresse e efeitos negativos sobre a saúde dos trabalhadores. O objetivo do estudo foi avaliar a saúde mental dos profissionais de saúde da rede especializada de Aracaju (Sergipe) e as situações de estresse ocupacional com base no modelo esforço-recompensa. Estudo transversal realizado em 2011 com 94 profissionais de saúde em atividade em dois centros de atendimento especializado. Foi utilizado questionário contendo variáveis sociodemográficas e econômicas, situação e ambiente de trabalho, avaliação de estresse ocupacional (usando o Effort-Reward Imbalance) e o Self Reporting Questionaire para mensuração dos transtornos mentais comuns. A prevalência de transtornos mentais comuns foi elevada (50,6%), sendo mais frequente em fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas e entre aqueles que relataram estar insatisfeitos com a sua condição salarial e de trabalho. Todos os profissionais que referiram desequilíbrio entre esforços e recompensas no trabalho apresentaram transtornos mentais comuns. Em conclusão, foram identificadas características do trabalho desfavoráveis aos profissionais e ao desempenho das suas funções, além de elevadas prevalências de transtornos mentais comuns. Programas voltados à proteção, valorização e promoção à saúde dos trabalhadores devem ser implantados a fim de elevar a qualidade de vida no trabalho.
O artigo aborda o fenômeno do estresse e sua relação com o trabalhador e seu sistema. A metodologia adotada foi a pesquisa exploratória de abordagem qualitativa. Foi realizado um levantamento bibliográfico nos anos de 2001 a 2012 por artigos publicados na língua portuguesa e inglesa nas bases Biblioteca Virtual em Saúde, SciELO e MEDLINE. Foram utilizados os descritores: saúde do trabalhador, estresse ocupacional, estresse psicológico, trabalho, intervenção e vigilância em saúde do trabalhador. Após leitura dos resumos de 362 artigos encontrados, 18 foram selecionados e submetidos à análise de conteúdo. Destacou-se a necessidade de identificar, sanar ou amenizar os fatores que causam esse fenômeno, a fim de que sejam propostas ações de promoção de saúde dentro do ambiente de trabalho para torná-lo uma fonte de prazer ao trabalhador.
O presente texto tem por objetivo contribuir com reflexões analíticas acerca da constituição da consciência e da alienação no contexto do movimento de reforma psiquiátrica brasileira, apontando as particularidades desse processo na sociedade capitalista. Busca apresentar elementos iniciais que problematizem a direção política e social que vem sendo construída e consolidada pelo movimento de reforma psiquiátrica, que não se pauta na transformação da ordem societária e limita-se, por isso, à conquista da emancipação política. Parte-se da hipótese de que é fundamental localizar a importância e a contribuição do materialismo histórico dialético na análise não apenas da conjuntura, mas pautá-lo nas ações cotidianas e na busca de uma consciência crítica a fim de se construir uma nova ordem societária.