e-ISSN: 1981-7746
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A Trabalho, Educação e Saúde (TES) publica contribuições originais sobre os campos da educação e da saúde, discutindo-os sob a ótica da organização do trabalho contemporâneo, de uma perspectiva crítica e interdisciplinar. Para submeter um texto, consultar a Política Editorial e as Instruções aos Autores.
Eduardo Sá Barreto é professor associado no Departamento de Economia e no Programa de Pós-graduação em Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas sobre Marx e o Marxismo (Niep-Marx). Possui doutorado e mestrado em Economia pela UFF e graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É autor dos livros Ecologia Marxista Para Pessoas Sem Tempo (Usina Editorial, 2022); O Capital na Estufa: Para a Crítica da Economia das Mudanças Climáticas (Editora Consequência, 2019); Marxism in the Age of Ecological Catastrophe: Theory and Praxis (Editora Routledge, 2024); entre outros, com temas relacionados à crise ecológica, crítica da economia política, história do pensamento econômico e filosofia da ciência. Nesta entrevista, Eduardo aborda o ecossocialismo como contrapartida à crise do Capital.
Imagem: Larissa Guedes(EPSJV/FIOCRUZ)
Com o objetivo de analisar as repercussões das políticas atuais de gestão e financiamento dos serviços de Atenção Primária em Saúde no Brasil no trabalho de terapeutas ocupacionais, realizou-se uma pesquisa-ação, operacionalizada como uma comunidade de prática, com 14 encontros, dos quais participaram seis terapeutas ocupacionais de diferentes regiões, de abril a outubro de 2023. As transcrições dos encontros foram analisadas tematicamente e os resultados organizados em três temas: as sobrecargas e a desumanização do trabalho na Atenção Primária; o desejo de oferecer um cuidado de qualidade, aprendido na formação inicial, em contraposição à alta demanda de adaptabilidade em processos de trabalho fragmentados; e o enfrentamento dessas contingências. As terapeutas ocupacionais participantes demonstram a diversidade de vínculos trabalhistas, em uma variedade de serviços e populações atendidas. Os encontros na comunidade de prática possibilitaram o acesso a múltiplas realidades do trabalho de terapeutas ocupacionais, com repercussões no cotidiano pessoal e profissional e na saúde. Além disso, visibilizam-se tensões entre a formação para o cuidado comunitário na Atenção Primária e a realidade de um trabalho individualizado, fragmentado e pautado por metas – evidenciando contrassensos entre a política de formação para a Atenção Primária, a política de implementação e a execução desse trabalho.
Imagem: Freepik
O papel do farmacêutico no enfrentamento de problemas de saúde autolimitados é necessário, mas existem desafios de habilidades e confiança no manejo clínico. A integração de simulações no ensino é uma das ferramentas para aprimorar essas competências clínicas. Esta pesquisa, realizada em Brasília, 2022, objetivou avaliar as competências clínicas de profissionais e estudantes de Farmácia por meio de simulações realísticas remotas, utilizando um instrumento de avaliação validado. O estudo, ocorreu em três etapas: desenvolvimento e disponibilização de material pedagógico com descrição do caso clínico; simulação realística remota de consulta farmacêutica e avaliação por pares; e análise quantitativa do desempenho dos participantes. Fizeram parte da pesquisa 96 participantes (profissionais e alunos), e foram realizadas 40 simulações clínicas, totalizando 1.020 avaliações por pares. Predominantemente, as avaliações das habilidades clínicas mostraram-se positivas, destacando-se ‘comunicação verbal’ (88,6%), ‘definição do problema de saúde’ (86,4%) e ‘comunicação não verbal’ (85,5%). No entanto, o item sobre a ‘aferição dos sinais vitais’ alcançou apenas 57,3% de desempenho satisfatório. Observou-se melhoria significativa na confiança dos participantes após o acesso ao material e à simulação. As simulações clínicas contribuem para o desenvolvimento das competências clínicas, fortalecendo a capacidade de intervenção farmacêutica no manejo de problemas de saúde autolimitados.
Imagem: Ministério da Saúde/ flickr
Trata-se de um estudo transversal com o objetivo de avaliar o conhecimento, a autoeficácia e a eficácia coletiva de profissionais atuantes em equipes multiprofissionais do serviço público de Campinas, São Paulo, em relação às recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira. Utilizaram-se questionários autoaplicáveis validados para coletar dados e regressões lineares para comparar grupos e identificar fatores influentes nos desfechos. O estudo envolveu uma amostra de 141 profissionais do setor saúde e da educação, majoritariamente mulheres, de 35 a 45 anos, com vínculo empregatício municipal de até de 10 anos. Cerca de metade dos profissionais conheciam o Guia, mas apenas 28,9% dos profissionais da saúde e 19,5% da educação o utilizavam. Os nutricionistas obtiveram a maior pontuação de conhecimento, e a média geral foi de 64,6 pontos. Profissionais da saúde apresentaram proporção maior de autoeficácia elevada em comparação aos da educação. Os nutricionistas de ambos os setores e profissionais da saúde tiveram maiores pontuações de eficácia coletiva do que profissionais da educação. Aqueles com maior autoeficácia e tempo de carreira tiveram maior chance de alcançar eficácia coletiva elevada. O diagnóstico evidenciou a necessidade de formações sobre o Guia para aumentar o conhecimento e o empoderamento dos profissionais para o trabalho intersetorial.
Imagem: Freepik
Este artigo teve por objetivo discutir gênero, raça e formação como marcadores sociais que atravessam a participação de agentes comunitárias de saúde no apoio matricial em saúde mental de Belo Horizonte, em 2023. Trata-se dos resultados de uma pesquisa qualitativa, cujas técnicas para produção dos dados foram entrevistas semiestruturadas e observações participantes. Como ferramenta analítica, utilizou-se a interseccionalidade. Nas equipes pesquisadas, observou-se, entre as agentes, maioria de mulheres negras com ensino médio; e entre as profissionais que oferecem matriciamento, maioria de mulheres brancas com ensino superior. Verificou-se que essas diferenças raciais e de formação atravessam as relações estabelecidas entre agentes e apoiadoras, estando relacionadas a alguns mecanismos de exclusão das agentes comunitárias dos espaços de matriciamento em saúde mental.
Imagem: Freepik
No Mianmar, após o golpe militar de fevereiro de 2021, muitos estudantes de medicina suspenderam seus estudos devido à guerra civil. A Universidade de Parma se comprometeu a oferecer alternativas de formação para esses estudantes. O objetivo deste estudo foi analisar, utilizando um método misto, as necessidades educacionais existentes entre os estudantes de medicina do Myanmar e a viabilidade de cursos alternativos de formação. A pesquisa quantitativa revelou que muitos estudantes podiam participar de atividades educacionais on-line. O principal desafio era o treinamento clínico prático, embora alguns acreditem que a simulação on-line possa, em parte, compensar essa deficiência. As áreas de maior interesse de aprendizagem foram: Saúde Mental, Medicina de Emergência, Saúde Pública e Gestão em Saúde. O estudo qualitativo mostrou que os estudantes confiavam que universidades estrangeiras poderiam proporcionar aprendizagem on-line tanto durante a guerra civil quanto após o restabelecimento da paz, e que essas atividades poderiam ser reconhecidas legalmente. Estes resultados não apenas documentam a resiliência dos estudantes, mas também destacam a importância de adaptar a formação às necessidades reais e efetivas, considerando o contexto específico em situações de conflito.
Imagem: Freepik
Durante a pandemia provocada pelo vírus Sars-CoV-2, associações e movimentos sociais pertencentes a populações do campo construíram diversas ações buscando garantir a sobrevivência de suas comunidades. O objetivo do estudo foi analisar os efeitos das práticas associativas na garantia de saúde da população do campo no contexto pandêmico. Trata-se de um estudo de casos de caráter qualitativo, no qual participaram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e três associações quilombolas, contemplando três regiões do Brasil (Sul, Sudeste e Nordeste). Realizaram-se 15 entrevistas com integrantes desses movimentos entre 2021 e 2022. Os dados foram examinados por meio de análise temática. As ações organizadas nos territórios pautaram-se em princípios solidários, na gestão da vida comunitária e na defesa da vida, tornando comunitária a responsabilidade sobre a saúde e os direitos sociais. A organização popular na pandemia proporcionou um maior comprometimento dentro das associações, assentamentos e acampamentos na luta por saúde e por direitos, provocando uma mobilização comunitária e uma formação política que tornaram os coletivos mais fortes para construir sua luta. O associativismo, por meio da organização popular, fomentou a solidariedade, formação política e o cuidado coletivo, atuando em uma perspectiva emancipatória de saúde.
Imagem: MST
A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde é um conjunto de normas e diretrizes criadas para a implementação de tais práticas. O objetivo do estudo foi analisar a trajetória da referida política por meio de documentos oficiais, com enfoque nos desafios relacionados à formação em saúde e no impacto da hegemonia do modelo biomédico sobre a implementação de tais práticas. O estudo utilizou como instrumento de coleta e análise de dados a análise documental descritiva e a análise textual discursiva, respectivamente. Analisaram-se quatro documentos oficiais. Os resultados apontaram que o documento mais recente apresenta um detalhamento da trajetória de experiências profissionais com as práticas, justificando a oficialização da política. Identificamos a existência de um campo de saberes sobre as práticas anterior à regulamentação da política. Contudo, a abordagem sobre o ensino foi considerada incipiente. Os outros documentos analisados apresentaram somente uma descrição sobre as práticas inclusas na política. A abrangência da dimensão cultural no ensino em práticas integrativas e complementares pode contribuir para um olhar diversificado de tais práticas no Sistema Único de Saúde, de modo a romper com a exclusividade científica do modelo biomédico.
O objetivo do estudo foi analisar as orientações para a organização do trabalho com a inclusão das tecnologias digitais no setor saúde, presentes em documentos oficiais no Brasil e em Portugal. A revisão documental, realizada em maio de 2024, incluiu documentos desde o ano de 2011, resultando em 11 documentos de Portugal e dez do Brasil. Os resultados apontam como semelhanças nos arcabouços regulatórios dos países o processo de interoperabilidade semântica dos sistemas de informação, sistemas de prontuário eletrônico, uso da telessaúde para apoiar decisões em saúde e gestão e o incentivo ao uso da prescrição eletrônica. As diferenças estão relacionadas à definição da rede de suporte na implementação de tecnologias, bem como ao uso da inteligência artificial para a vigilância epidemiológica e consultas de triagem e rastreamento em teledermatologia nas unidades de cuidados primários em Portugal; no Brasil, destacam-se a institucionalização da Secretaria de Saúde Digital no Ministério da Saúde e a criação da Unidade Básica de Saúde Digital no contexto da Atenção Primária à Saúde. Ao permitir desvelar o uso de tecnologias para subsidiar as práticas, a análise minuciosa dos documentos pode contribuir para a implementação das políticas públicas e para a transformação digital democrática e inclusiva nos países.
Imagem: Freepik
Discute-se proposta de supervisão de trabalhadoras da Atenção Primária à Saúde que realizam cuidado direto com mulheres em situação de violência doméstica, por meio de espaço de debate sobre o fazer e os afetos emergentes, considerando-se questões de gênero, direitos humanos e sociais das mulheres. Tal proposta compôs pesquisa-intervenção, oferecida após formação sobre o tema em quatro serviços de Atenção Primária à Saúde no município de São Paulo, de 2020 a 2022. Empregou-se a técnica observação participante com registro em diário de campo das supervisões mensais e entrevistas semiestruturadas com trabalhadoras e gestoras. Por meio de análise de conteúdo, os dados foram apresentados nos eixos: discussão do trabalho – escuta da mulher, perspectiva de gênero e direitos humanos; a trabalhadora e seu processo; organização do trabalho e trabalho em equipe; rede intersetorial e organização da própria supervisão e necessidade de enquadre. A supervisão qualificou a identificação e o cuidado dos casos, destacando seu duplo caráter: acompanhamento do cuidado e reflexão crítica desalienadora de questões ético-políticas. Produz impacto para além do tema específico e é fundamental para segurança e sucesso prático da intervenção, tendo a gestão como essencial na sua manutenção. Defende-se a supervisão como parte de protocolos na Atenção Primária para cuidado de casos de violência.
Imagem: Freepik
O objetivo do artigo é realizar uma análise histórica sobre a atuação da Rede Federal na oferta de cursos técnicos em saúde, entre os anos 2017 e 2023, com base em dados obtidos na Plataforma Nilo Peçanha do Ministério da Educação. Parte-se da problematização inerente aos baixos indicadores de participação do setor público na formação de técnicos em saúde, da curricularização da saúde por meio da pedagogia das competências e dos avanços das políticas neoliberais que alteram as relações de formação humana e profissional. O artigo orientou-se pelo aporte teórico e metodológico da matriz do materialismo histórico e dialético, ao depreender que a relação trabalho, educação e saúde constitui-se como uma determinação da realidade social. Os resultados corroboraram a baixa participação da Rede Federal na oferta de cursos técnicos e de matrículas em saúde e a intensa representatividade da iniciativa privada. Entretanto, revelaram um importante dado que endossa o papel político e social da Rede Federal e, principalmente, dos Institutos Federais: o aumento contínuo no número de matrículas no ensino médio integrado em saúde.
Imagem: Fiocruz Imagens
MAIA, João R.; REIS, José R. F.; CRUZ, Leandra B. (org.). Pensar a loucura: trilhas literárias, culturais, históricas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2023, 312 p.